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Coisas que eu queria saber aos 21

'Aos 21, era uma hippie chique. Ganhava muito dinheiro com saias indianas', diz a estilista Gloria Coelho

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Por Redação
Atualização:

    Para falar dos 21, preciso voltar aos 19 anos. Eu estava terminando o colegial técnico no Instituto de Arte e Decoração, o Iade. Ficava na Avenida Paulista, e eu tinha aula com vários artistas, como o Carlos Fajardo e o Luiz Paulo Baravelli. Achava que seria arquiteta, então fazia o colegial à tarde e cursinho pré-vestibular de manhã.

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Mas nessa época eu já amava moda... Só terminei o colegial porque adorava os professores. Já no cursinho, não consegui ir adiante. Eu fazia camisetas e joias com umas amigas. A gente fez uma camiseta que deu muito certo, no começo dos anos 70. Vendemos umas 30 mil. Ninguém deixava eu estudar! Os clientes apareciam não sei de onde na minha casa e compravam as camisetas.

Então, não tive mais tempo para o cursinho. Comecei a ficar supernervosa. O coordenador do curso chamou minha mãe e disse que eu deveria parar e voltar a me matricular no outro ano. Antes dos 21, já sabia que não iria fazer mais faculdade.

Viajava bastante nessa época. Uma viagem que me marcou muito foi para a Inglaterra. Foi um mês de viagem. Era um excursão com umas tias, gente mais velha. Fiquei amiga de um pessoal meio hippie em Londres. Tinha um amigo que me levava a lugares que tinham roupas hippies. Descobri uma saia indiana linda.

Quando voltei ao Brasil, comecei também a fazer as saias indianas. Ganhei muito dinheiro com isso. Aos 21, fazia saia, camiseta, jaqueta, bordava paisagens. Era uma hippie chique. Não tenho mais essas peças, mas tenho fotos de amigas que as usaram.

Eu me interessava pelas artes. A gente via filmes, estudava desenho arquitetônico. Gostava do Fellini, do Kubrick. Minha vida era mais artística, eu lia muito. Depois que voltei de Londres, li A Erva do Diabo, do Carlos Castaneda. Li Sidarta, do Hermann Hesse. Lia poesias. E eu também tinha mania de escrever as poesias.

Posso falar? Eu tenho uma condição de vida muito feliz: quando estou num processo, estou inteira. E eu estava naquele processo, aproveitei demais.

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Então, não tinha nada que eu acho que me faltava saber aos 21... Talvez saber administrar, saber de economia, essas coisas. Fez falta, mas eu não me interessava, me irritava um pouco. Eu já tinha a companhia da filosofia, de Sócrates e Platão. O que mais eu poderia querer?

Foi uma época muito criativa. E eu era muito infantil. A gente nunca pode parar de ser criança, é supersaudável.

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