Com sucesso, China lança primeira espaçonave independente a Marte

A sonda foi enviada com a missão de estudar o solo do planeta, onde deve aterrissar em fevereiro de 2021, após viagem de sete meses

PUBLICIDADE

Por Ludovic Ehret e AFP
Atualização:

A China lançou com sucesso nesta quinta-feira, 23, sua primeira nave espacial independente a Marte, em missão para estudar o solo do planeta. A sonda foi enviada pelo foguete Long March 5 Y-4, que decolou do Centro Espacial de Wencheng, na ilha de Hainan, localizada no sul chinês. O Estadão mostrou em reportagem especial a corrida de Estados Unidos, China e Emirados Árabes no envio de missões ao planeta vermelho.

Pessoas assistem lançamento de sonda para missão Tianwen-1 de exploração em Marte, no Centro Espacial de Wenchang, na China Foto: STR/AFP

PUBLICIDADE

Sob temperatura de 34ºC, os engenheiros e trabalhadores do centro aplaudiram o lançamento. A sonda deve chegar em fevereiro de 2021 a Marte. Antes, deverá realizar o longo trajeto da Terra até o planeta vermelho por sete meses. A distância varia, mas é equivalente a, no mínimo, 55 milhões de quilômetros - ou seja, 1.400 voltas em torno do mundo.

A missão Tianwen-1 (Perguntas ao céu-1, em tradução) enviou uma espaçonave composta de três elementos: um orbitador de observação - que vai girar ao redor de Marte, um aterrissador e um robô de controle remoto, encarregado de analisar o solo.

"Este é claramente um marco histórico para China. É a primeira vez que se aventuram no sistema solar", declarou Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos.

Esta missão oferece um novo prestígio a Pequim frente a Washington, que ordenou o fechamento do consulado chinês em Houston na quarta-feira, no último episódio de rivalidade entre as duas potências.

Corrida espacial por Marte

A China não foi a única a querer enviar uma sonda a Marte recentemente. Os Emirados Árabes impulsionaram a sua, chamada Esperança, na segunda-feira, 20, e os Estados Unidos preveem lançar a Marte 2020 em 30 de julho. A competição sino-americana remonta à corrida espacial entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos, na época da Guerra Fria.

Publicidade

O país asiático ficou muito tempo à margem dessa competição espacial e está recuperando seu atraso. Enviou seu primeiro homem ao espaço em 2003, fez aterrissar pequenos robôs (os "Coelhos de Jade") na Lua em 2013 e 2019 e em junho completou a constelação de satélites de seu sistema de navegação Beidou, rival do GPS norte-americano. Sua missão a Marte é o passo seguinte neste programa, que também prevê a construção de uma estação espacial até 2022. 

"O feito da China mudará a situação atual, dominada pelos Estados Unidos há meio século", afirmou Chen Lan, analista do site GoTaikonauts, especializado no programa espacial chinês. "Do ponto de vista de toda a humanidade, é algo positivo", acrescentou. Segundo os especialistas, a experiência da China na Lua será muito útil para Marte.

Em Wenchang, público assiste lançamento do foguete Long March 5 Y-4, que carrega sonda para exploração em Marte Foto: China Daily via Reuters

A maioria das mais de 40 missões soviéticas, norte-americanas, europeias, japonesas e indianas lançadas ao planeta vermelho desde 1960 terminaram em falhas. Em 2011, a China tentou conquistar Marte com sua sonda Yinghuo-1 (Vagalume-1, em tradução), colocada em uma nave espacial russa que sofreu um colapso. "Se (a nova sonda) aterrissar de forma segura na superfície marciana e enviar uma primeira imagem, Tianwen-1 já será um êxito", diz Chen Lan.

A China adota postura cautelosa depois de corrigir várias falhas em 2020, com lançamentos fracassados ​​e a desintegração de uma cápsula espacial em seu retorno à Terra. "Os riscos e as dificuldades são consideráveis", em particular a aterrissagem em Marte, aponta Liu Tongje, porta-voz da missão Tianwen-1.

"Mas também temos muita confiança", afirmou Chen Lan. "A China pode fracassar desta vez, mas algum dia conseguirá. Porque tem a vontade, a determinação, recursos financeiros e humanos suficiente para conseguir". / AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.