Combate à poluição ameaça aquecer o planeta

Aerossóis são partículas consideradas poluentes mas contribuem para manter a Terra mais fresca

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Por Agencia Estado
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Reduzir a quantidade de aerossóis na atmosfera, um dos objetivos das estratégias de combate à poluição global, pode ter o efeito contrário ao perseguido pelos ambientalistas e levar a um futuro mais sombrio do que muitos legisladores gostariam. Aerossóis são partículas consideradas poluentes mas contribuem para manter a Terra mais fresca. Em quatro páginas, três pesquisadores publicam na revista científica Nature desta quinta-feira os resultados de um cenário em que haverá menos partículas suspensas no ar. Segundo eles, o sucesso das políticas de controle dos aerossóis somado à contenção frouxa da emissão global de dióxido de carbono (CO2) deixarão o planeta em média 6º C mais quente, em 2100, em comparação com o período antes da Revolução Industrial. As conseqüências em todo o sistema climático seriam catastróficas. Tal temperatura é mais alta do que as projetadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgadas em 2001, de 1,5º C a 4,5º C dependendo do cenário. O órgão, ligado às Nações Unidas, diz que tal variação seria suficiente para transformar a Amazônia em cerrado, por exemplo, além de elevar o nível dos oceanos e ameaçar as cidades costeiras, onde vive a maior parte da população mundial. Novo paradigma "A força real do gases do efeito estufa tem sido mascarada pelo efeito dos aerossóis. Eles freiam o aquecimento - e nós realmente não sabemos com que intensidade", explica o principal autor, Meinrat Andreae, do Instituto Max Plank, na Alemanha. "Esta nova maneira de integrar os aerossóis, os gases do efeito estufa e os efeitos na biosfera altera o quadro em que a mudança climática mais provável (do IPCC) é bastante tolerável para uma em que existe um risco alto da mudança ocorrer mais cedo e em um grau mais alto." "Se não fosse pelo efeito resfriador dos aerossóis, esse número teria aumentado ainda mais", explica o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o estudo "coloca um novo paradigma" sobre as mudanças climáticas, uma vez que mostra a urgência de se estabelecer medidas rígidas de controle do carbono na atmosfera. "A tendência é que cada vez menos aerossóis sejam lançados. Medidas neste sentido foram tomadas em São Paulo, na Cidade do México, na Europa", diz. "O esforço agora deve ser feito para reduzir a emissão de CO2." Ação e reação Os aerossóis são partículas pequenas, sólidas e líquidas, de diversas composições químicas que ficam suspensas no ar. Elas são liberadas na fumaça e em processos químicos como a queima de combustíveis. Sua vida na atmosfera é de apenas duas semanas, ao contrário do CO2, que permanece por mais de 50 anos. "Como um é cumulativo e o outro não, o cumulativo vai sempre ganhar em longo prazo", afirma Andreae. As partículas tendem a formar relações sinérgicas com os poluentes e atuam como núcleos de condensação para a formação de nuvens. Elas também absorvem a energia que vem do Sol e reduzem a quantidade de radiação que chega ao solo. Segundo estudos recentes, publicados neste ano, a Terra hoje retém 1 watt por metro quadrado de radiação solar, provocando um desequilíbrio energético no planeta. para assinantes da Nature:  Clear skies raise global-warming estimates   mudanças climáticas Nota do Editor: Este texto foi alterado em 30/06/05 para inclusão de detalhes, do link direto para o estudo na Nature e da lista de matérias relacionadas ao tema

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