Comitê da ONU pressiona Vaticano sobre abuso sexual

PUBLICIDADE

Por PHILI
Atualização:

Um comitê da ONU sobre tortura pressionou nesta segunda-feira o Vaticano sobre os escândalos de abusos sexuais de crianças na Igreja Católica, pedindo um sistema de investigação permanente para acabar com o "clima de impunidade" que prevalece há décadas. Em uma audiência de duas horas, em Genebra, o Comitê contra a Tortura fez uma enxurrada de perguntas para a delegação do Vaticano, questionando-a sobre decisões políticas passadas, a distinção jurídica entre a Santa Sé e a Cidade do Vaticano, e sobre casos específicos. O Vaticano, que vai divulgar suas respostas oficiais na terça-feira, disse que a Igreja "faz sua própria limpeza da casa" há 10 anos, e estava determinado a proteger as crianças e que suas medidas postas em prática levaram à redução dos casos de abuso sexual de crianças por padres. George Tugushi, um membro do comitê da Geórgia, disse que uma comissão internacional formada recentemente para aconselhar o papa Francisco sobre a forma de lidar com o abuso sexual foi um passo muito positivo, mas não o suficiente. "A comissão pode precisar de ajuda para garantir que todos os casos sejam denunciados corretamente e para começar a mudar o clima de impunidade, mas não pode ser considerada, em nossa opinião, como um substituto para um sistema de investigação em funcionamento", ele disse à delegação do Vaticano liderada pelo arcebispo Silvano Tomasi. Outro membro da comissão, Satyabhoosun Gupt Domah, perguntou se a Santa Sé estava tomando medidas para eliminar a "química que cria as condições" para o abuso sexual de crianças por padres. A posição da Santa Sé é a de adesão à Convenção das Nações Unidas contra a Tortura, que se aplica apenas ao território da Cidade do Vaticano. Tomasi disse que, embora a Santa Sé possa ser uma força moral, o "agente da justiça" para os crimes cometidos pelos católicos é o Estado local onde o crime é cometido. "Ressalte-se, particularmente à luz de muita confusão, que a Santa Sé não tem jurisdição ... sobre todos os membros da Igreja Católica", disse ele em discurso de abertura. Barbara Blaine, da Rede de Sobreviventes de Abusos ??por Padres (SNAP, na sigla em inglês), acusou o Vaticano de se esquivar da responsabilidade. "Eles estão discutindo sobre minúcias quando deveriam estar abraçando as vítimas e acabando com a violência sexual", disse ela. O relator-chefe da comissão, Felice Gaer, dos Estados Unidos, disse à delegação do Vaticano que a sua posição "parece refletir a intenção de que uma parcela significativa das ações e omissões dos funcionários da Santa Sé seja excluída das considerações por esta comissão, e isso nos preocupa".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.