Comunidades estão deixando de construir canoas

Sem condições de percorrer grandes trechos da mata, fabricantes de canoas decidiram abandonar a profissão

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Por Agencia Estado
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Árvore de madeira mole, a maúba é uma das preferidas pelos fabricantes de canoas. É a madeira que resiste mais tempo, garante Francisco Bezerra, 19 anos, que há três anos ajuda o irmão Mário, 32 anos, a fabricar e vender canoas. Diferente das demais, uma canoa de maúba pode ser utilizada por até seis anos. As embarcações de jacareúba, madeira rosa e muita valiosa no mercado ilegal, dura menos, de três a quatro anos. Madeira fácil de esculpir, a itaúba é outra árvore na mira de madeireiros e que faz a festa dos fabricantes de canoa. A árvore tem coloração amarelada. Até o início do século XX, as canoas de itaúba eram as preferidas pelos representantes do governo e exploradores que percorreram a Amazônia. Os irmãos Francisco e Mário aprenderam o ofício com o pai, Martins, 60 anos. A família mora em São Gabriel, outra comunidade às margens do Rio Itaquaí. O povoado é formado por 12 palafitas. Sem condições de percorrer grandes trechos da mata, Martins decidiu abandonar a profissão de fabricante de canoa. Francisco reclama que antes era mais fácil encontrar jacareúba e itaúba. "A madeira é o único segredo para fazer uma canoa", explica. Atualmente, ele e o irmão conseguem vender até quatro canoas pequenas, que comportam duas pessoas. Cada embarcação desse tipo sai por R$ 60. Uma canoa maior, de sete metros, e "pronta para andar" é vendida no máximo por R$ 150. Francisco e Mário também pretendem abandonar a atividade e investir mais na agricultura. A longa distância que agora eles têm de percorrer para encontrar madeira apropriada não representou aumento de preços das canoas negociadas na cidade de Tabatinga. "Nisso, a situação é a mesma, o pessoal que compra não quer saber se a gente tirou madeira longe ou perto", diz Francisco. O repórter Leonencio Nossa, da Agência Estado, está acompanhando uma expedição de 105 dias da Funai, ao Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, em busca de índios isolados. Veja o especial Em Busca de Povos Desconhecidos

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