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Consema vota amanhã proteção aos cervos paulistas

Após 2 anos de negociações, Conselho Estadual de Meio Ambiente delibera sobre a conservação das duas últimas grandes áreas inundáveis de São Paulo, habitat dos cervos-do-pantanal

Por Agencia Estado
Atualização:

Os últimos 150 cervos-do-pantanal, que sobreviveram à perda de habitat para as hidrelétricas do oeste do Estado de São Paulo, devem ampliar as chances de sobrevivência a partir desta quarta-feira, quando o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) delibera sobre a conservação de duas grandes áreas naturais inundáveis da região. Após mais de dois anos de negociações, na Câmara de Energia do Consema, fechou-se um acordo em torno da compensação ambiental pela usina Três Irmãos, entre a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA). A discussão sobre estas compensações teve início em 1990, mas apenas em 2000 viabilizou-se um processo de negociações concretas. A idéia, a ser referendada pelo Consema, é criar uma nova unidade de conservação, de 15.960 hectares, na foz do rio Aguapeí, contígua ao Parque Estadual do Aguapeí, de 9 mil hectares. Além disso, o Parque Estadual do Rio de Peixe seria ampliado em 4.100 hectares e se promoveria o reflorestamento de 371 hectares do remanescente de reserva florestal da Lagoa São Paulo, nas margens do Ribeirão do Veado, um dos afluentes do rio Paraná. Este conjunto de medidas, se aprovado amanhã, deverá ser encaminhado ao governo de São Paulo, para a tramitação legal. Para o cervo-do-pantanal, as áreas formam um mosaico de unidades de conservação, que permitirá o contato entre indivíduos isolados e medidas importantes de manejo, visando o aumento da população e manutenção da espécie. Como se tratam de áreas úmidas, ou pequenos pantanais, estes ambientes asseguram também a sobrevivência de outras espécies, que estão desaparecendo de São Paulo pela perda de habitat, como a lontra, ariranha, sucuri, jacaré-do-papo-amarelo e diversas aves migratórias ou aquáticas, como tuiuiús, colhereiros e biguás. ?Consideramos a decisão extremamente importante. É uma luta ambientalista de muitos anos e deve vir acompanhada de outras medidas, como a coibição à caça do cervo, inclusive para venda da galhada como troféu; redução das queimadas e do tráfico de animais silvestres?, comenta Djalma Weffort, presidente da entidade ambientalista Apoena. A Cesp deverá se responsabilizar pela gestão das novas áreas, assim como realizar o reflorestamento das margens do córrego. Quase extinto Reserva da Lagoa São Paulo terá 371 hectares reflorestados. O cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) é o maior cervídeo da América do Sul. Até 1987 era cientificamente considerado extinto no Rio Grande do Sul, Uruguai, Norte da Argentina e São Paulo, resistindo bem apenas no Paraguai e no Pantanal Matogrossense. Mas foi redescoberta uma população de cerca de mil cervos, no oeste paulista, antes do enchimento da represa de Três Irmãos, nos varjões do rio Tietê. Sob forte pressão ambientalista, no início dos anos 90, a Cesp promoveu a captura e transferência dos cervos, da área a ser inundada para cercados especialmente construídos para eles, em Promissão (SP), e numa área particular, no Rio do Pântano, no Mato Grosso do Sul. Muitos destes cervos morreram durante a operação ou logo após, devido ao estresse associado à captura. Outros morreram por ataque de carrapatos, doenças infecciosas e ingestão de plantas tóxicas. Metade dos filhotes nascidos em cativeiro também morreram, por dificuldades de manejo. Hoje, alguns exemplares ainda permanecem em cativeiro, mas uma boa parte foi relocada, sobretudo em uma área próxima às reservas em discussão, do outro lado do rio Paraná, no Mato Grosse do Sul, onde deve ser criada a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Cisalpina, também ao encargo da Cesp. Os pesquisadores, que hoje trabalham com o cervo, na Embrapa Pantanal e na Universidade Estadual Paulista (Unesp), consideram crucial a manutenção do habitat natural para afastar a possibilidade de extinção da espécie, mas recomendam ainda o aumento da fiscalização e promoção de estudos genéticos e demográficos, além da restauração das várzeas e varjões, afetados pela drenagem para implantação de pastagens e agricultura.

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