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Consumo já supera reposição dos recursos naturais em 20%

Segundo relatório do WWF, a Humanidade está consumindo mais do que a Terra é capaz de repor.

Por Agencia Estado
Atualização:

A Terra tem 11,4 bilhões de hectares terrestres e marinhos considerados produtivos e sustentáveis, isto é, com capacidade de renovação. É o equivalente a um quarto da superfície do planeta, o que resta depois de descontadas as áreas geladas, desertos e oceanos abertos. Mas a Humanidade já está usando o equivalente a 13,7 bilhões de hectares para produzir os alimentos, água, energia e bens de consumo, de que necessita. A diferença 2,3 bilhões de hectares, ou cerca de 20%, sai dos estoques naturais não renováveis, configurando uma crise mundial sem precedentes, que tende a reduzir drasticamente e de forma desigual - a qualidade de vida até 2030. As contas são do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e constam do Relatório Planeta Vivo, lançado hoje, em Genebra, na Suíça. "O fato de vivermos em um planeta abundante, mas não sem limites, é um desafio claro para os líderes mundiais que participarão da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável (Rio+10)", diz Claude Martin, diretor-geral do WWF-Internacional, que há 2 semanas esteve no Rio de Janeiro, apresentando alguns dos resultados deste relatório na Rio+10 Brasil, reunião preparatória para a Cúpula Mundial. "Assegurar o acesso aos recursos básicos e melhorar a saúde e a renda das populações mais pobres do mundo são questões que não podem ser separadas da manutenção da integridade dos ecossistemas naturais. A menos que asseguremos a saúde dos ecossistemas, nunca seremos capazes de garantir um padrão de vida aceitável para a maior parte da população mundial." Para os autores do relatório, os líderes mundiais têm a chance de reverter a atual tendência de consumo superior à capacidade de renovação da Terra, se optarem por sistemas de produção mais sustentáveis, manejo adequado de recursos naturais e racionalidade no consumo de bens e, sobretudo, de energia. Eles sugerem mais empenho na substituição dos combustíveis fósseis e na promoção de tecnologias limpas, edificações inteligentes, sistemas de transporte mais eficientes e mercados de consumo mais eqüitativos e sustentáveis. E isso sem descuidar da conservação e restauração dos ecossistemas, para manter sua diversidade e produtividade biológica. Rastros indeléveis O WWF vem trabalhando com uma série de indicadores ambientais para determinar o que chamou de "pegada ecológica" de cada um dos 6 bilhões de seres humanos, uma espécie de rastro deixado no planeta, a partir do consumo de recursos naturais, para produção de grãos, carne, peixes e outros alimentos, além da água, energia e bens de consumo. Quanto maior o desperdício de recursos naturais - em sistemas de produção ineficientes ou devido a excessos dos mercados de consumo - maior é a "pegada ecológica". O estudo da entidade ambientalista internacional traz um ranking de 146 países com mais de 1 milhão de habitantes, onde se evidenciam as enormes diferenças entre as "pegadas ecológicas" de cada um, medidas em hectares per capita. Países desenvolvidos tendem a deixar rastros maiores, devido a seus padrões insustentáveis de consumo, sobretudo de energia. Mas alguns países em desenvolvimento também se destacam, notadamente pela ineficiência de seus sistemas de produção ou pela grande dependência do consumo direto de recursos naturais como pescado e lenha, por exemplo. Os dez primeiros do ranking da insustentabilidade são os Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Finlândia, Noruega, Kwait, Austrália, Suécia e Bélgica/Luxemburgo, todos eles com uma pegada ecológica superior a 6 hectares per capita, sendo que os Emirados Árabes Unidos superam os 10 hectares per capita. A "pegada ecológica" média, de todo o mundo, é 2,3 hectares per capita e a capacidade de suporte da Terra seria de 1,9 hectare per capita. O Brasil figura em 55º lugar, com uma pegada ecológica de 2,3 hectare por habitante, índice igual à média mundial, mas já 20% acima da capacidade de reposição dos recursos naturais. O relatório traz também rankings específicos para alguns tipos de produção e, nestes, o Brasil fica entre os dez menos sustentáveis quanto ao uso de pastagens (7º lugar) e entre os 30 menos sustentáveis na extração florestal madeireira (24º lugar). Nos índices de uso de recursos naturais para produção de grãos e pesca, o país está em posições mais confortáveis, em 55º e 78º lugar, respectivamente. Além da "pegada ecológica", o WWF também estabeleceu um Índice Planeta Vivo (IPV), que mede a qualidade ambiental, a partir de três outros índices: populações de espécies florestais, populações de espécies marinhas e populações de espécies aquáticas (de água doce). O primeiro avalia o estado de 282 espécies de aves, mamíferos e répteis, considerados indicadores, de florestas de várias partes do mundo. O segundo avalia as 217 espécies indicadoras de aves, mamíferos, répteis e peixes de oceanos e áreas costeiras e o terceiro, de 195 espécies indicadoras de aves, peixes, mamíferos, répteis e anfíbios de lagos, rios e áreas úmidas. Nos últimos 30 anos, os três índices declinaram sensivelmente, tendo as espécies aquáticas sido as mais afetadas, com um declínio médio de 54%. As populações das espécies marinhas declinaram 35%, em média, e as florestais, 15%. Dentre todas as regiões biogeográficas, segundo o relatório, os ecossistemas tropicais e os ecossistemas temperados do Hemisfério Sul tem perdido biodiversidade mais rapidamente.

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