CSN e Metalic Nordeste criam empresa recicladora de aço

A meta é chegar ao nível de alguns países europeus, como a Alemanha, em que o aço é a matéria-prima de 90% das embalagens metálicas, com índice de reciclagem superior a 70%

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Por Agencia Estado
Atualização:

Incentivar a reciclagem de latinhas de aço é uma das estratégias de médio e longo prazo da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Companhia Metalic Nordeste para ampliar a participação das embalagens de aço no mercado brasileiro, hoje restrita a 6%. A meta é chegar ao nível de alguns países europeus, como a Alemanha, em que o aço é a matéria-prima de 90% das embalagens metálicas, com índice de reciclagem superior a 70%. Para organizar a reciclagem das latinhas de aço, as duas companhias apresentaram, nesta quinta-feira, em Fortaleza, no Ceará, a Reciclaço, uma empresa sem fins lucrativos, criada em novembro de 2001, fruto de uma parceria entre a fornecedora de chapas de aço (CSN) e a produtora de latas de aço para bebidas (Metalic). A atuação da Reciclaço irá concentrar-se, inicialmente, no Nordeste, onde a participação das latinhas de aço como embalagem de bebidas já chega a 40%, graças à presença da Metalic em Fortaleza, com capacidade instalada para produzir 1 bilhão de latinhas por ano. O investimento inicial na Reciclaço é de cerca de R$ 2 milhões, metade dos quais destina-se a uma campanha publicitária dirigida, em parte, ao grande público (TV e outdoors), enfatizando a possibilidade de reciclar o aço e incentivando a devolução das latinhas, após o consumo, a postos de coleta. Outra parte da campanha é dirigida a catadores (folhetos, cartazes e spots de rádio), divulgando o aumento do preço pago por quilo de latinhas coletadas. Isso porque um dos grandes obstáculos à coleta de latinhas de aço, atualmente, é o baixo preço deste mercado informal (3 a 4 centavos por quilo), na comparação com latinhas de alumínio (cerca de 18 centavos por quilo). Atraindo catadores "a Reciclaço está investindo prioritariamente nos catadores, pagando cerca de 12 centavos por quilo, através de sucateiros cadastrados, em 15 cidades de 8 Estados, podendo alcançar 20 centavos em eventos especiais como carnavais e micaretas", diz Melaine Tedesco Fernandes, gerente de resíduos da Metalic e da Reciclaço. Legislação O modelo adotado é semelhante ao da Collect-A-Can, empresa sul africana, em cuja operação se baseou boa parte da legislação referente a resíduos sólidos, hoje existente naquele país. Atuando como viabilizadora de um sistema eficiente de coleta e reciclagem do aço, aqui no Brasil, a Reciclaço também se antecipa à Política de Resíduos Sólidos, que tramita numa Comissão Especial no Congresso Nacional, tendo como relator o deputado paulista Emerson Kapaz. A legislação deve entrar em votação em abril ou maio próximos, segundo espera o deputado. De acordo com seu relatório preliminar, tal política deve privilegiar o chamado princípio poluidor pagador, através do qual as empresas serão responsabilizadas pelos resíduos gerados em toda cadeia produtiva, incluindo pré e pós consumo dos produtos finais. A aplicação deste princípio no mercado de embalagens alimentícias deve forçar uma migração da indústria que utiliza embalagens altamente consumidoras de insumos, agressivas ao meio ambiente e difíceis de degradar, como PET e alumínio, para alternativas menos impactantes, entre as quais está a lata de aço. Esta é a aposta da Metalic para "perpetuação do negócio", admite João Caetano de Mello Neto, presidente da empresa. Menos lixo no ambiente Do total de 5,3 milhões de toneladas de aço produzidas pela CSN, 1 milhão de toneladas destinam-se a chapas de aço para embalagens, das quais 700 mil toneladas são colocadas no mercado nacional e 300 mil exportadas para 60 países. A Metalic usa 30 mil toneladas/ano para fabricar 1 bilhão de latinhas de bebidas, atualmente adotadas pela Coca-Cola, Guaraná Antártica e cerveja Kaiser, nas engarrafadoras do Nordeste. Em 2001, a reciclagem promovida pela empresa recuperou 5.735 toneladas de aço, correspondentes a 185 milhões de latinhas. Para 2002, com a Reciclaço, a expectativa é aumentar a recuperação para cerca de 14.500 toneladas de aço ou 467 milhões de latinhas. Isso significa economizar energia, carvão, água e minério de ferro, usados na produção primária do aço. Significa também atrair parte dos catadores para um mercado formal e melhor qualidade de vida, através de sua organização em cooperativas e junto aos sucateiros cadastrados. E ainda tira todas estas latinhas dos lixões, aterros e do meio ambiente. Uma lata de aço leva muito menos tempo do que uma de alumínio para se degradar, embora tenha uma persistência alta como lixo. Calcula-se que a lata de alumínio persista até 100 anos na natureza, enquanto a de aço, aberta, leva de 4 a 5 anos para oxidar completamente, em meio úmido salino (litoral), e de 5 a 7 anos, em meio seco e frio. "A degradabilidade no meio ambiente não afeta a vida de prateleira da lata de aço, porque na prateleira ela está fechada e revestida de vernizes e filmes, tendo uma durabilidade de 3 anos, em média", explica João Audi, diretor de embalagens da CSN. Ele acrescenta que a reciclagem do aço não tem limites, podendo ser repetida inúmeras vezes, mesmo se a lata apresenta sinais de oxidação, que desaparecem quando o material é fundido. Além da parceria na Reciclaço, a CSN tem feito promoções em supermercados, que também devem ser ampliadas em 2002. No supermercados Sendas do Rio de Janeiro, por exemplo, o consumidor que opta por produtos com embalagens de aço é premiado com viagens e eletrodomésticos, assim como o consumidor que devolve as embalagens vazias ao supermercados, após o consumo. Como no caso da campanha da Reciclaço, o objetivo é estimular um consumo responsável, paralelamente à adoção de medidas internas de controle e gestão ambiental de toda a cadeia produtiva.

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