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Cultivo de algas substitui coleta predatória

Experiência piloto com plantio de algas, no litoral nordestino, será avaliada pela FAO e pode receber financiamento para produção em escala

Por Agencia Estado
Atualização:

Nos últimos dois anos, três comunidades de pescadores artesanais do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte trocaram a coleta predatória de algas marinhas pelo cultivo, numa experiência piloto financiada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e realizada pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O investimento, nestes 2 anos, foi de US$360 mil, utilizados sobretudo na capacitação dos pescadores e no custeio da produção de mudas de algas conhecidas como Gracilaria. Destas algas se extrai o agar-agar, carragena e outros sub-produtos, utilizados na indústria alimentícia como espessantes, gelificantes e estabilizantes. Também são empregados na indústria cosmética como hidratantes, emolientes e antioxidantes. As experiências piloto serão avaliadas, na próxima semana, por uma equipe técnica da FAO, que pode liberar novos recursos para o início da produção em escala. ?Atualmente o Brasil importa cerca de 2.500 toneladas anuais destes extratos, sobretudo das Filipinas e Chile e o consumo nacional total, somando-se produtos que já vem prontos ou semi-prontos, é de 3.200 toneladas?, estima a administradora Graziela Dias, da Christo, Manesco & Associados, coordenadora da pesquisa de viabilidade de mercado das algas cultivadas. Segundo ela, o país não produz nem 10% de suas necessidades, apesar de ter potencial para suprir toda a demanda interna e ainda expandir o mercado. ?Muitos produtos novos ou em desenvolvimento utilizam extratos de algas: fast food, ração úmida para cães e gatos, alimentos lácteos e carnes industrializadas são alguns exemplos?, diz. ?Mas a produção brasileira vem caindo, devido ao excesso de exploração dos bancos naturais de algas?. De acordo com o levantamento realizado por Graziela, o Brasil já chegou a exportar 500 a 600 toneladas anuais, sobretudo para o Japão e Argentina. Mas, em 2001, foram apenas 173 toneladas. A depredação dos bancos naturais de algas, na costa nordestina, poderia diminuir com um trabalho de educação ambiental junto aos pescadores, para quem a coleta é uma renda alternativa. Porém, a opção do cultivo apresenta-se como uma forma de agregar valor mais rápido, com menos impacto ambiental. Especialmente se as comunidades de pescadores conseguirem a parceria pretendida, com indústrias de transformação das algas nos extratos e blends normalmente consumidos pelas indústrias. Hoje, o quilo da alga é vendido entre R$ 0,40 e 1,00, mas o quilo do extrato é importado a US$20,00. ?Os plantios atuais são pequenos, porque são projetos piloto, mas podem ser expandidos rapidamente: as algas permitem colheita a cada três meses, aproximadamente, com algumas variações conforme a época do ano?, acrescenta a coordenadora da pesquisa. O plantio é feito no fundo do mar, não muito profundo, e os cuidados dependem de visitas feitas em barcos. Os pescadores são orientados a cortar as plantas, ao invés de arrancar com raízes, como é feito nos bancos naturais. Isso favorece a rebrota rápida e aumenta a produtividade. Já estão em andamento os primeiros estudos, também, para buscar a certificação de origem destas algas cultivadas, como forma de assegurar ao mercado tratar-se de um produto ambiental e socialmente correto. No caso das indústria de cosméticos, a certificação é especialmente valorizada, porque usada no marketing e propaganda.

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