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Dedo fossilizado revela que Homo sapiens saiu da África antes do que se pensava

Encontrado em deserto da Arábia Saudita, osso de mão humana tem cerca de 90 mil anos, contradizendo a ideia de que primeiros humanos modernos passaram para a Ásia em uma só onda migratória, há 60 mil anos

Por Fabio de Castro
Atualização:

Encontrado em um deserto da Arábia Saudita, um osso fossilizado do dedo de uma mão humana mostra que o Homo sapiens já estava na Península Arábica há cerca de 90 mil anos. A descoberta contradiz a ideia de que o ser humano teria migrado para fora da África pela primeira vez há 60 mil anos.

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O novo estudo, realizado por cientistas da Universidade de Oxford (Reino Unido) e do Instituto Max Planck (Alemanha), foi publicado nesta segunda-feira, 9, na revista Nature Ecology & Evolution.

De acordo com os autores do estudo, a descoberta é mais uma evidência contrária à tese de que a saída da África ocorreu há 60 mil anos em uma só onda migratória. Antes dela, outros arqueólogos já haviam encontrado, em Israel, uma mandíbula de 180 mil anos e outros fósseis de 90 mil a 130 mil anos. 

Fotografado em várias posições, o osso de um dedo humano com 90 mil anos, encontrado em um deserto na Arábia Saudita, revela que o Homo sapiens saiu da África antes do que se pensava. Foto: Ian Cartwright

O dedo humano, encontrado no deserto de Nefud, na Arábia Saudita, passa agora a ser o mais antigo fóssil de um Homo sapiens já encontrado fora da África de do Levante - região do Oriente Médio que inclui a Síria, a Jordânia, o Líbano e a Palestina. Segundo os cientistas, a nova descoberta indica que a dispersão dos primeiros humanos pela Eurásia se deu em múltiplas ondas e que essas populações chegaram muito mais longe da África do que se imaginava.

"Essa descoberta mostra pela primeira vez, de forma conclusiva, que os primeiros membros da nossa espécie colonizaram uma vasta região do sudoeste asiático e não ficaram restritos à região do Levante. A capacidade desses primeiros povos para colonizar amplas áreas lança dúvidas sobre a ideia sustentada por muito tempo de que  as primeiras dispersões para fora da África foram localizadas e fracassadas", disse o autor principal do estudo, Huw Groucutt, pesquisador da Universidade de Oxford e do Instituto Max Planck.

Arqueólogos mapeiam o sítio de Al Wusta, onde foi encontrado o mais antigo fóssil humano fora da Árfrica e do Levante; a região, que hoje fica no árido deserto de Nefud, na Arábia Saudita, era coberta por pastos há 90 mil anos. Foto: Klint Janulis

O novo fóssil foi encontrado em um sítio arqueológico chamado Al Wista, um antigo lago de água doce que existia onde hoje está o extremamente árido deserto de Nefud. A região , na época, era coberta por pastagens. No local, foram encontrados também fósseis de hipopótamos, de pequenos caramujos de água doce e uma grande quantidade de ferramentas de pedra feitas por humanos.

Em Al Wista, os cientistas encontraram um pequeno e bem preservado fóssil de 3,2 centímetros de comprimento que foi imediatamente reconhecido como o dedo de uma mão humana. O osso foi analisado com tomografia em três dimensões e seu formato foi comparado aos de vários outros ossos de dedos - tanto de indivíduos humanos recentes, como de outras espécies de primatas e hominídeos como o Homem de Neanderthal.

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Tecnologia de ponta. Os resultados mostraram, de forma conclusiva, que o osso era mesmo de uma mão humana. Aplicando uma técnica chamada de datação por séries de urânio, os cientistas utilizaram laser para fazer furos microscópicos no fóssil e medir a proporção de minúsculos traços de elementos radioativos. 

Essas proporções revelaram que o fóssil tem pelo menos 88 mil anos. Outros dados obtidos a partir dos fósseis de animais associados e dos sedimentos  encontrados no local possibilitaram uma datação ainda mais precisa: o dedo humano tem 90 mil anos.

"A Península Arábica foi considerada por muito tempo como um local distante do principal estágio da evolução humana. Essa descoberta coloca firmemente essa região como chave para a compreensão de nossas origens e da expansão da nossa espécie para o resto do mundo. À medida em que avança o trabalho de campo, vamos continuar fazendo descobertas notáveis na Arábia Saudita", disse o líder das escavações e coautor do estudo, Michael Petraglia, do instituto Max Planck.

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