30 de outubro de 2014 | 20h49
Pesquisadores da Universidade de Washington, no Estado norte-americano de Seattle, relataram suas descobertas nesta quinta-feira na revista científica Science.
Eles compararam ratos de laboratório convencionais, que só costumam morrer com a versão do Ebola para sua espécie, com ratos geneticamente diferentes que desenvolveram uma ampla variedade de sintomas de maneira muito semelhante àquela vista em pessoas infectadas com o vírus.
Os ratos usados no estudo foram gerados de oito cepas diferentes do animal e criados de modo a representar a diversidade genética humana.
Os sintomas nestes roedores modificados variaram da ligeira perda de peso à febre hemorrágica plena, incluindo hemorragias, baços inchados e mudanças na cor e na textura do fígado.
“Infectamos estes ratos com uma cepa do vírus do Ebola para ratos”, disse Angela Rasmussen, microbióloga da Universidade de Washington que ajudou a conduzir o estudo.
"Em ratos de laboratório tradicionais, esta cepa do Ebola mata os animais, mas não produz nenhuma doença hemorrágica”, explicou.
Os pesquisadores acreditam que os resultados podem auxiliar a esclarecer algumas dúvidas sobre o surto da doença que assola Libéria, Serra Leoa e Guiné e que já matou cerca de 5 mil pessoas.
Um grande ponto de interrogação é se os sobreviventes do Ebola tiveram alguma exposição viral anterior que permite aos seus sistemas imunológicos combater a infecção ou se existe algo geneticamente único nestes sobreviventes que os torna resistentes.
O estudo com os ratos não consegue elucidar a questão da imunidade prévia, mas reforça a ideia de que o código genético dos indivíduos desempenha um papel na sobrevivência ao Ebola.
“Com certeza existe um componente genético”, afirmou Rasmussen.
A pesquisa mostra que os genes dominantes influenciam como as células se tornam infectadas e quanto o vírus se divide, disse o professor Andrew Easton, virologista da Universidade de Warwick, que não participou do estudo.
“A maioria destes genes está envolvida nos estágios primordiais de nossa resposta imunológica a infecções”, algo que também foi visto com outros vírus, declarou ele em um comunicado.
O coautor do estudo e também da Universidade de Washington, Michael Katze, disse esperar que a pesquisa acalmar o debate sobre o papel da genética no progresso da doença.
“Estes ratos foram infectados exatamente com a mesma dose, exatamente pelo mesmo método e exatamente pelo mesmo investigador. A única coisa diferente foi o histórico genético”, afirmou.
Um fator que dificultou a pesquisa com o Ebola foi a falta de um rato que sirva de modelo para estudar a doença. Rasmussen espera que daqui por diante seu trabalho torne mais fácil para os cientistas estudar drogas e vacinas que combatam o Ebola.
A maioria desses estudos é feita em macacos, mas eles podem ser difíceis de se trabalhar.
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