Divulgada lista das espécies marinhas mais ameaçadas

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Por Agencia Estado
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Dez seres marinhos merecem destaque, entre as espécies mais ameaçadas de extinção, em todos os oceanos, devido a impactos diretos ou indiretos de ações humanas. A lista, divulgada durante a reunião "Desafiando o Fim dos Oceanos", em Los Cabos, no México, foi elaborada por especialistas da União para a Conservação Mundial (IUCN), Birdlife International, Conservation International, National Oceanographic and Atmospheric Administration (NOAA) e pelo Departamento de Pesca e Caça da Califórnia. Para os especialistas, trata-se apenas da ponta de um iceberg, que eles esperam identificar um pouco melhor até o próximo dia 3 de junho, quando devem divulgar uma declaração e uma agenda de ações em defesa dos oceanos e sua biodiversidade. "A expectativa é chegar a um resultado semelhante ao da reunião ´Desafiando o Fim da Natureza´, que organizamos há 3 anos atrás, para estabelecer um plano de ação de conservação dos ecossistemas terrestres mais ameaçados", explica Russel Mittermeier, presidente da Conservation International. Os especialistas reunidos, naquela ocasião, calcularam serem necessários US$ 30 bilhões para garantir a conservação dos 25 ecossistemas de alta biodiversidade criticamente ameaçados - os chamados hotspots de biodiversidade - e as principais áreas naturais ainda intactas, entre as quais está a Amazônia. E estabeleceram uma agenda de ações concretas, além de firmar as primeiras parcerias entre o setores privado, governamental e não governamental, para cuidar desta agenda. Dois fundos para financiar tais ações, nos ecossistemas terrestres, funcionam desde então. Um para os hotspots, de US$125 milhões, aplicados em Madagascar, África Ocidental, Andes Tropicais, América Central, Tanzânia, África do Sul e na Mata Atlântica brasileira, entre outros, e um para as grandes áreas naturais, de US$100 milhões para um período de 5 anos. "As características da biodiversidade e dos ecossistemas marinhos são diferentes dos terrestres e, nesta reunião, não temos ainda as áreas prioritárias definidas", comenta Mittermeier. "Mas já começamos a esboçar algumas propostas para recifes de coral e montanhas submersas". Poucos sobreviventes Entre as espécies escolhidas como símbolo, pelos especialistas agora reunidos no México, figura uma brasileira: a arraia-viola (Rhinobatos horkelii), de cerca de um metro de comprimento, que vive em águas rasas, ao longo de toda a costa. Em apenas uma década, de 1984 a 1994, a população desta arraia declinou 96%, devido à pesca predatória e à captura acidental em redes de arrasto. A principal proposta para reverter sua situação é a proteção em reservas marinhas. Além da arraia-viola, consta da lista das dez espécies mais ameaçadas o menor golfinho do mundo, chamado de vaquita (Phocoena sinus). De distribuição restrita ao Golfo da Califórnia, a espécie costuma ser capturada acidentalmente em redes comuns e espinhéis (linhas longas com vários anzóis) e também vem sofrendo com alterações na disponibilidade de nutrientes, antes carreados para o golfo pelo rio Colorado. Parte dos nutrientes atualmente fica retido nas represas, construídas ao longo do rio. Estima-se que a população de vaquitas esteja reduzida a 250 indivíduos. A mesma população é estimada para a baleia franca do Atlântico Norte (Eubalena glacialis), que chega a pesar 100 toneladas, com seus 20 metros de comprimento. Dizimada pela caça, há algumas décadas, ela agora sofre o efeito da poluição, da colisão com navios e afogamento em grandes redes de pesca industrial. Também está na lista a foca monja do Mediterrâneo (Monachus monachus), com uma população de cerca de 300 indivíduos. Antes encontrada em rochedos do Mediterrâneo, leste do Atlântico e Mar Negro, elas agora estão restritas a duas localidades, no leste do Mediterrâneo e noroeste da África. Era caçada para consumo da carne e pele e ainda é abatida por pescadores, por competir com eles na captura de peixes. Sofre ainda com a degradação do hábitat, competição de espécies introduzidas e captura acidental. Ameaçados pelo descaso Com uma população ligeiramente maior, de 3.200 aves, está ainda na lista a fragata das Ilhas Christmas (Fregata andrewsi), que nidifica na costa da Austrália e migra em busca de alimento até o leste do Oceano Índico e oeste do arquipélago Indo-Malaio. Está ameaçada pela mineração de fosfato, que já removeu 25% de sua área de nidificação. E uma espécie de formiga, introduzida na ilha, preda seus ninhos e ameaça mudar todo equilíbrio ecológico do local. Já para a tartaruga de couro (Dermochelys coriacea), a postura de ovos deixou de ser o maior problema, graças aos numerosos programas de proteção, estabelecidos nas praias, incluindo o Tamar, no Brasil. Mas ainda há dificuldades no mar, nas zonas de alimentação, onde o lixo plástico costuma matar tartarugas por asfixia. Como elas se alimentam de águas vivas, acabam confundindo os plásticos com alimento e os engolem, engasgando. Também têm problemas com o afogamento em redes de pesca, poluição química e poluição luminosa. As cidades e complexos hoteleiros, localizados à beira mar, confundem as fêmeas com suas luzes, no momento em que se aproximam para a desova, e elas perdem o senso de orientação, deixando de fazer os ninhos ou localizando-os em áreas impróprias. Entre os peixes listados, estão o totoaba (Totoaba macdonaldi), da família das corvinas, e um tipo de garoupa (Epinephelus drummondhayi), ambos ameaçados pela pesca predatória. E a lista de animais se completa com o abalone branco (Haliotis sorenseni), um molusco natural dos fundos rochosos da Baja Califórnia, capturado para comercialização de sua concha. Restam cerca de 2 mil indivíduos, tão dispersos entre si, que a reprodução tornou-se difícil. A única planta, entre as 10 espécies destacadas, é a alga de Johnson (Halophila johnsonii), do sul da Flórida, nos EUA, em vias de extinção devido aos impactos das cidades próximas e ao alto tráfego de barcos, que alteram profundamente o ambiente. Veja o especial Oceanos em Declínio

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