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Dugongos, à beira da extinção

Poluição, destruição de habitat, afogamento em redes de pesca e comércio de amuletos ameaçam os últimos dugongos, mamíferos asiáticos, semelhantes a peixes-boi

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro relatório sobre o status dos dugongos - mamíferos marinhos asiáticos, da mesma ordem dos peixes-boi - foi divulgado hoje, em Cartagena, na Colômbia, durante o Fórum Ambiental Ministerial Global. O documento reúne informações coletadas em 37 países ou territórios, de ocorrência histórica da espécie. Original das faixas litorâneas dos oceanos Índico e Pacífico, o dugongo (Dugong dugong) já desapareceu das Ilhas Maurício; Seychelles; Maldívias; da costa oeste do Sri Lanka; das ilhas japonesas Sakishima Shoto; do estuário do rio das Pérolas, em Hong Kong; de diversas ilhas da Filipinas e de partes da costa do Vietnã e Cambodja. Em outras áreas, a população está declinando rapidamente, devido a problemas de saúde relacionados ao excesso de poluição das águas; perda de habitat; ocupação desordenada das zonas costeiras e, em especial, estuários; acidentes com barcos; afogamentos em redes de pesca e caça para consumo da carne ou comércio de amuletos. A espécie só apresenta populações relativamente estáveis em alguns pontos da costa autraliana, Mar Vermelho e Golfo da Arábia, conforme o relatório, coordenado pela professora Helene Marsh, da Universidade James Cook, da Austrália. "A situação é alarmante na costa leste da África, próxima área onde a espécie se tornará localmente extinta, se não forem tomadas medidas urgentes", diz o estudo. Entre as ações imediatas necessárias está a proteção dos bancos de algas das quais os mamíferos se alimentam. As algas só crescem em águas límpidas e os sedimentos provenientes do continente ou a poluição química acabam facilmente com elas. As mudanças climáticas também afetam duramente os bancos costeiros de algas, com as tempestades mais violentas e aumento das inundações (e carreamento de sedimentos para o mar). A escassez de alimento, por sua vez, afeta a taxa de reprodução do animal, que já é baixa por natureza. Uma fêmea dugongo só reproduz entre os 6 e 17 anos e pode ter um único filhote durante toda a vida reprodutiva. "É importante a cooperação entre todos os países, para prevenir a exploração comercial internacional destas espécies: dugongos merecem a mesma atenção dos golfinhos e baleias e poderiam entrar em programas integrados, regionais e nacionais", observa Robert Hepworth, do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Pnuma), que financiou o estudo. "E como as algas de que os dugongos se alimentam estão associadas a recifes de coral e mangues, os programas de conservação destes ecossistemas podem ser parte do esforço para salvar a espécie". Os dugongos pertencem à ordem Sirenia, como as três espécies atuais de peixes-boi: africano, marinho e amazônico. Mas são de uma família distinta, cuja característica mais marcante é a cauda partida, como a dos golfinhos. A outra espécie conhecida, que pertencia à mesma família - a vaca marinha de Steller - já está extinta. Acredita-se que a visão rápida destes mamíferos, rondando os navios, no passado, tenha gerado o mito das sereias. As quatro espécies da ordem Sirenia são consideradas ameaçadas de extinção e a situação do dugongo parece ser a pior das quatro. No Brasil, o peixe-boi marinho recupera-se muito lentamente, mas ainda sofre com a perda de habitat, em especial com a alteração de estuários, usados pelas fêmeas para dar à luz. O peixe-boi amazônico continua sendo caçado para consumo da carne, apesar da proibição legal e do declínio evidente da população.

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