Embrapa anuncia biofábrica de mosca-da-fruta

Criação de machos esterilizados pretende substituir uso de inseticidas no combate à praga, introduzida no Brasil há mais de cem anos

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Por Agencia Estado
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Uma fábrica de moscas, a ser instalada em Juazeiro, na Bahia, deverá se tornar a melhor substituta para os inseticidas, utilizados na fruticultura brasileira contra a mosca-da-fruta (Ceratitis capitata). A praga foi introduzida no país há mais de cem anos, provavelmente através da importação de frutas temperadas, e infesta sobretudo as regiões Sudeste e Nordeste. O uso de inseticidas não implica apenas num risco de contaminação ambiental, mas também à saúde pública, em especial porque muitas das frutas afetadas - e hoje pulverizadas com veneno - são consumidas com casca (carambolas, goiabas, acerolas, uvas etc.). Dentro de dois ou três anos, a biofábrica deverá produzir em laboratório os machos da mosca-da-fruta, esterilizados ainda na fase de pupa por irradiação com cobalto 60. Eles são posteriormente distribuídos em plantações infestadas, à razão de 1.500 a 2 mil por hectare, e ali acasalam com as fêmeas, que passam a produzir ovos estéreis. Como as fêmeas só copulam com um macho, as próximas gerações ficam comprometidas. A soltura de machos estéreis deve ser repetida durante toda a safra e, em alguns casos, pode levar à erradicação local da praga. "Em regiões de fruticultura mais isoladas das cidades, como Curaçá, na Bahia, e Vale do Jaguaribe, no Ceará, podemos chegar à erradicação", afirma Antônio Nascimento, da Embrapa. Nas áreas onde as plantações são contínuas, o processo tem de ser repetido a cada safra. A capacidade de produção da biofábrica será de pelo menos 200 milhões de machos de mosca-da-fruta por semana, que poderão ser despachados para qualquer parte do Brasil, em caixinhas com isolamento térmico, por avião. A tecnologia foi desenvolvida em Viena, na Áustria, por pesquisadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que usam a mesma estratégia em 30 biofábricas, instaladas em vários países. A distribuição de machos estéreis também funciona no combate à mosca tse-tse, que provoca a doença do sono; à mosca da bicheira, que afeta o gado bovino, e à traça da maçã. A Embrapa Mandioca e Fruticultura, de Cruz das Almas (BA), e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), de Piracicaba (SP), já pesquisam esta alternativa há alguns anos, mas a biofábrica de Juazeiro será a primeira a produzir moscas em escala comercial. O investimento na sua construção e no treinamento de equipes de combate será da ordem de 3,5 milhões de dólares, já garantidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O sucesso no combate à praga vai depender do apoio e empenho de outras agências do governo federal, do Ministério da Ciência e Tecnologia, governos estaduais, associações de produtores, universidades e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

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