Empresa diz ter descoberto gene da obesidade

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Por Agencia Estado
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A empresa americana de biotecnologia Myriad Genetics anunciou hoje em Nova York a descoberta de mais uma mutação genética ligada à obesidade. Graças à estrutura do gene, batizado de HOB1, os cientistas acreditam que será mais fácil desenvolver um medicamento para controlar suas funções. Mas o tempo entre a descoberta de novas mutações genéticas e a venda do medicamento correspondente nas farmácias costuma ser de cerca de sete anos. "É preciso muita pesquisa para compreendermos a biologia que relaciona a mutação genética com a obesidade", explicou William Hockett, porta-voz da Myriad. "Trata-se de uma etapa inicial que necessita de provas clínicas. A Myriad vai desenvolver um medicamento, provar sua eficiência e associar-se a um grande laboratório farmacêutico." Segundo a equipe da Myriad, será necessária uma droga com moléculas pequenas. Outros genes relacionados à obesidade já foram identificados. A descoberta da Myriad é significativa por ter sido feita por meio de rastreamento populacional e não apenas com estudos em animais. A equipe da Myriad comparou o DNA de pessoas obesas com o de outros membros da mesma família. Eles descobriram a mutação de um gene que foi transmitida de uma geração para outra. Os cientistas ainda não sabem qual é a porcentagem de indivíduos portadores da mutação que pode desenvolver obesidade. Eles trabalham com a hipótese de que esse número possa ser alto. Em São Paulo, o anúncio da Myriad não surpreendeu os especialistas ouvidos pela reportagem. "Muitos genes relacionados à obesidade são descobertos todos os dias", disse Alfredo Halpern, professor de endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). "A obesidade passou a ser assunto bastante estudado." Para Antonio Roberto Chacra, professor de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), detectar o defeito genético usando tecnologia de biologia molecular é sempre um avanço. "Mas não podemos esquecer os fatores ambientais." Chacra explicou que as pessoas podem ter determinada mutação genética e não desenvolver a doença. "Nem todos obesos têm a mesma mutação genética", completou Halpern. Há várias alterações genéticas ligadas à obesidade. Cada uma delas é responsável por um efeito: reduzir ou acelerar a velocidade de queima de gordura, aumentar ou diminuir o apetite e provocar maior ou menor acúmulo de gordura no corpo. A equipe da Myriad informou que o gene HOB1 parece proporcionar vínculo entre obesidade e diabete. A relação entre essas duas doenças já é conhecida pelos especialistas em todo o mundo. "Tanto que já se fala em ´diabesidade´", disse Halpern. A obesidade parece estar relacionada ao desenvolvimento de resistência à insulina, o que caracteriza a diabete tipo 2. Como a obesidade, a diabete também não é determinada por uma única mutação genética. "Na maior parte dos casos de diabete, há mais de um gene envolvido", esclareceu Chacra. Nesses casos, vale a regra de interação do indivíduo com o ambiente para que ele desenvolva a doença.

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