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Equipe cria vasos em tecido artificial

Trabalho representa um grande avanço na área de engenharia tecidual

Por Agencia Estado
Atualização:

A criação de tecidos complexos, e talvez até de órgãos humanos, está um passo mais próximo da realidade. A equipe do laboratório do cientista americano Robert Langer, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), conseguiu produzir vasos sanguíneos para alimentar tecido muscular criado artificialmente a partir de células, um dos principais obstáculos da engenharia tecidual. Já existem diversos avanços neste campo, como a produção de epiderme artificialmente - inclusive por brasileiros (leia texto ao lado). Contudo, a formação de tecidos mais complexos esbarra na dificuldade de vascularizar - e, portanto, alimentar - esses tecidos. Sem isso, é impossível pensar em produzir fígados e corações, por exemplo. A última pesquisa de Langer, publicada nesta semana na versão online da Nature Biotechnology (www.nature.com/nbt), usa células retiradas de embriões de camundongos - fibroblastos e mioblastos - e células endoteliais de veias de cordão umbilical humanas. Elas foram injetadas em um tipo de "ninho", uma estrutura esponjosa de 1 milímetro feita de um polímero biodegradável, onde o material cresceu e formou um tecido muscular esquelético em estágio inicial, em três dimensões, com redes de vasos no interior. Depois, os pesquisadores implantaram todo o conjunto em camundongos para testar se o tecido continuaria a se desenvolver novamente. Neste momento, eles usaram um "truque": os animais eram geneticamente modificados para não apresentarem uma reação imunológica à estrutura. Contudo, o resultado que Langer esperava foi obtido: o tecido muscular com os vasos continuou a crescer. "Acho que se pode dizer que avançamos bastante", disse o pesquisador ao Estado. O próximo passo é estudar a funcionalidade do tecido. Para o pesquisador brasileiro Silvio Duailibi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o trabalho representa um grande avanço na área de engenharia tecidual. "Não sei até que ponto esta técnica seria boa para tratar defeitos de vascularização, por exemplo, mas ela mostra uma saída muito interessante para a formação de órgãos complexos, que precisam de uma rede de vasos irrigando (o tecido)", afirma. Langer diz que o caminho a ser trilhado, até que os biotecnólogos possam criar órgãos artificiais, ainda exigirá "algum tempo". Segundo o israelense Shulamit Levenberg, co-autor do estudo, a equipe "deu mais um passo e talvez tenha aberto uma porta para resolver o problema de vascularizar tecidos em três dimensões", ao realizar uma cultura conjunta de diversos tipos de células. "Este é mesmo um grande obstáculo na engenharia tecidual".

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