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Erosão ameaça 80% da zona costeira em todo o mundo

Por Agencia Estado
Atualização:

Cerca de 80% das zonas costeiras em todo o mundo estão em processo de erosão e o litoral português é o que apresenta uma das situações mais graves, sobretudo entre as cidades de Ovar e Espinho, no norte do país. A situação é agravada pelo fato da costa portuguesa possuir escassas defesas naturais contra a erosão, principalmente a falta de areia, como afirmaram à Agência Lusa os especialistas Velosos Gomes e Filipe Duarte. O fenômeno da erosão afeta perto de 80 em cada 100 zonas costeiras em todo o mundo, sendo também gravemente afetada a costa irlandesa. Para este problema podem ser encontradas explicações na subida do nível do mar provocada pelas alterações climáticas que superaquecem o planeta. Na costa portuguesa, à semelhança do que acontece em outros países do sul da Europa, o nível médio do mar sobe anualmente 1,7 milímetro e no fim deste século terá aumentado entre 20 centímetros e um metro. Esse é um número "relativamente elevado", segundo Filipe Duarte Santos, acrescentando que os países do norte são menos penalizados. "A própria massa terrestre tem movimentos de elevação e, por exemplo, na Escandinávia, há um abaixamento do mar porque a massa terrestre está se elevando", disse. Para ele, mais preocupante que a subida das águas do mar é falta de areia no litoral português. Essa falha é motivada pela ação do homem, como a extração de areia, obras na costa e construção de dezenas de barragens nos últimos 30 anos, que impedem a passagem de sedimentos e contribuem para o desgaste da costa. O professor Veloso Gomes, do Instituto de Hidráulica da Faculdade de Engenharia do Porto, teme que as soluções para impedir a erosão estejam sendo perdidas. "Hoje, continua-se a dizer, como há 10 anos, que são precisos estudos e soluções de engenharia, mas as soluções estão esgotando-se. Estamos num impasse muito crítico e os planos de ordenamento da orla costeira apenas conseguiram alguma contenção na construção urbana", alerta Gomes. Para Filipe Duarte Santos, a solução passa por criar um organismo responsável por toda a gestão da costa, que atualmente se encontra "dispersa por muitas entidades, ministérios e câmaras municipais". As regiões Norte e Centro de Portugal são as mais afetadas pela erosão e Veloso Gomes consegue identificar cinco praias que têm a situação mais crítica: Cortegaça, Esmoriz, Costa Nova, Vagueira e Furadouro. A erosão costeira tem sido encarada com preocupação pelos especialistas em todo o mundo. Recentemente, um encontro em Londres debateu o desenvolvimento do projeto internacional sobre as zonas costeiras, denominado Dinas-Coast, que pretende avaliar a importância das alterações climáticas no litoral em todo o mundo. Dentro de um ano, os especialistas esperam ter conclusões para todas as zonas costeiras do mundo. Em Portugal, o acompanhamento regular da costa é recente, mas já foram identificados os locais mais "críticos", que devem ser vigiados. O responsável pelo serviço dos recursos hídricos do Instituto da Água, Rui Rodrigues, disse que essa rede operacional de vigilância vai incidir mais na costa Centro e Norte do país, sobretudo nas praias como Ovar e Espinho, onde há uma forte erosão motivada pela pressão urbanística. Para evitar monitorar cada metro de litoral, criaram-se seis unidades costeiras que são representativas de toda a costa.

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