Estadão na Antártida, dia 8: Navio Almirante Maximiano

Homenageando ex-ministro brasileiro, embarcação é responsável por cerca de 40% das pesquisas antárticas do País

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Foto do author Luciana Garbin
Por Luciana Garbin e ANTÁRTIDA
Atualização:
Navio polar Almirante Maximiano na baía do Almirantado Foto: Clayton de Souza/Estadão

8º dia

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Navio Almirante Maximiano - 25/02/2019, 17h12

O navio mais novo da Marinha na Antártida tem um apelido simpático: Tio Max. É como os militares e pesquisadores costumam chamar o Navio Polar Almirante Maximiano, comprado em setembro de 2008 e onde são feitas cerca de 40% das pesquisas antárticas brasileiras.

Um dos trabalhos do navio é coletar dados oceanográficos da região para apoiar projetos do Proantar e atualizar cartas náuticas da região. Os dados depois são disponibilizados para navegadores de outros países. Nesta semana, o levantamento será nos arredores da Ilha Rei George, onde fica a base brasileira. Aproveitei que ele chegou por aqui no fim de semana e fui conhecê-lo.

Entrar e sair do navio não é muito fácil. Nos aproximamos de bote e foi preciso subir uma escada de corda e madeira, chamada pelos marinheiros de quebra-peito. Foi minha primeira experiência do tipo - e um dos momentos "com emoção" da viagem.

Vencido o desafio, conheci o comandante do navio, o capitão de mar e guerra João Candido Marques Dias, que está em sua primeira operação na Antártida.

“É uma missão muito marinheira vir para um lugar tão distante”, diz ele, contando que o Tio Max já costuma sair do porto com diversas tarefas. No caso das pesquisas, elas são principalmente relacionadas às áreas de Oceanografia, Hidrografia, Geofísica, Geologia e Biologia.

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A história do Tio Max começou em 1974, nos Estados Unidos. Ele foi construído para ser um navio de apoio para as plataformas de petróleo do Mar do Norte – o Suply Vessel. Em 1988, passou por uma megarreforma em que só a quilha original foi mantida. Virou então o navio pesqueiro Ocean Empress. Após ser adquirido pela Marinha, passou por outra reforma – desta vez, na Alemanha – e ganhou cinco laboratórios, acomodações para 119 pessoas (30 pesquisadores), hangar e convés de voo, para operação de helicópteros. Em 2010, recebeu equipamentos para pesquisa, incluindo guinchos oceanográficos, ecobatímetros para medir grandes profundidades, doppler para perfilar correntes e termossalinógrafo, para medir temperatura e salinidade da água.

O casco, pintado de vermelho, recebeu a inscrição H41 e o nome mudou de novo para homenagear o almirante de esquadra Maximiano Eduardo da Silva Fonseca (1919-1998), que, entre outros feitos, foi ministro, criou o corpo feminino da Marinha e comprou o Barão de Teffé, navio onde foi feita a primeira operação antártica. O retrato do almirante e sua espada estão hoje na Praça D'Armas, o espaço de refeições e convivência do navio.

Memorial ao almirante Maximiano, que dá nome ao navio Foto: Luciana Garbin/Estadão

Hospedado na base espanhola na Antártida, o professor do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília Paulo Câmara me conta por whatsapp que frequentou o Tio Max nos últimos cinco anos. E considera que ele atende bem às necessidades dos pesquisadores. “Foi no Max que eu conheci a Antártica e fui da Ilha Elefante até o sul de Guerlash. Eu adoro esse navio, tenho muito carinho por ele”, diz. “É um navio novo, mais confortável e bem equipado.”

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Como na Antártida as condições meteorológicas podem mudar rapidamente, às vezes é preciso muita conversa para ajustar interesses dos pesquisadores. “Quando dá para fazer a pesquisa a gente vai. Quando não dá, a gente chama e explica o motivo”, diz o capitão de fragata e imediato do navio Marcelo de Abreu Souza, de 42 anos. “Uma vez tínhamos uma projeção de coleta no Mar de Weddell, mas tinha tanto gelo que foi preciso reposicionar a área de estudo.”

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Não por acaso, lembra o comandante Candido, os três princípios na Antártida são paciência, observação e oportunidade.

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O Max já participou também de salvamento. A médica e primeiro-tenente Ana Carolina Ribeiro Feijão, uma das três mulheres a bordo do navio atualmente, lembra que em dezembro o navio recebeu um pedido pelo rádio para ajudar um francês que havia quebrado o braço no dia anterior enquanto manobrava a vela de um veleiro na Ilha Deception. Havia um médico a bordo, que improvisou uma imobilização com garrafa pet e deu analgésicos à vítima. “Fomos então com o bote até o veleiro e trouxemos o francês para o navio. Aqui, fizemos raio-x, imobilizamos e entramos em contato com a base chilena de Frei. De lá, ele seguiu para Punta Arenas.”

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