Estudantes de São Paulo lançarão foguete a partir de balão

Dois grupos de universitários de São Carlos se uniram no projeto, que é inédito na América Latina

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Por Everton Sylvestre
Atualização:

Lançar um foguete a partir de um balão, no interior de São Paulo. Essa é a missão, descrita como inédita na América Latina, que 30 estudantes de São Carlos assumiram para este ano. Se tiver êxito no projeto, o grupo quer estabelecer um modo mais barato de lançar foguetes, para que isso passe a ser financeiramente acessível, especialmente aos países em desenvolvimento.

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“É criar uma tecnologia que consegue colocar todo o mundo na era 5G, por exemplo”, pontua o universitário Kael Bastos, de 23 anos. Em paralelo, com o projeto Zeus-22, eles têm a expectativa de que o mercado aeroespacial no Brasil se expanda.

A maior parte dos estudantes que integram o projeto Zeus-22 é da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), a qual os programas extracurriculares estão vinculados. Há também alunos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Os dois grupos – Zenith, com tradição na construção de satélites e sondas espaciais desde 2014, e TOPUS, com experiência desde 2005 na construção de foguetes e pesquisas acadêmicas – somam seus esforços nesse novo desafio.

Maior parte dos estudantes que integram o projeto Zeus-22 é da Escola de Engenharia de São Carlos Foto: KAEL BASTOS / ZEUS-22

Assim como as duas equipes usaram partes de seus nomes para dar nome ao Zeus-22, o conceito em que elas trabalham, rockoon, é uma junção de dois termos em inglês: rocket (foguete) e ballon (balão). “A gente tem muita expertise em como fazer a ignição no solo. Agora vamos ter que descobrir como fazer essa ignição a 30 km de altura, como a gente cuida disso de maneira remota”, conta o integrante Davi Sellin, de 20 anos.

“A ideia é trabalhar mais na junção do que desenvolver um foguete novo ou uma sonda nova. (O foco) é como juntar as duas coisas”, destaca João Marcus Assunção, de 20 anos. “Esse primeiro lançamento vai validar as ideias e garantir que o sistema todo funciona, é uma prova de conceito. A gente está pensando, por enquanto, em usar os foguetes que a TOPUS já tem”, conta.

Os estudantes explicam que o combustível é um dos componentes que mais encarecem o lançamento de foguete. Eles acreditam que, reduzindo o consumo de combustível pelo método em que querem chegar, devem revolucionar os valores para lançamento, além de contribuir com o meio ambiente. Os estudantes relatam que ouviram de especialistas do setor que, com o desenvolvimento dessa tecnologia, lançamentos de US$ 20 milhões passariam a custar US$ 500 mil.

O professor Daniel Magalhães, da Escola de Engenharia de São Carlos, que abraçou a iniciativa e é responsável pelo projeto dentro da universidade, considera que, se o lançamento for um sucesso, estará aberta uma “porteira” de possibilidades, como experimentos com bactérias e a obtenção de imagens espaciais melhores do que as hoje registradas por satélites instalados há anos.

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A iniciativa do Zeus-22 partiu de Henrique Calandra, de 32 anos, fundador da startup WallJobs. Fã de tecnologia aeroespacial, ele conta que teve a “ideia doida” em julho de 2021 ao fazer pesquisas na internet. “Vemos que tem um mercado muito grande aeroespacial, bilionário, e no Brasil não é aproveitado. O jovem, para desenvolver projetos, depende do governo ou de sair do Brasil. Por que as empresas não podem investir nos jovens para criar um novo sistema (de mercado)?”, indaga.

A empresa de assessoria de recursos humanos é, até o momento, a principal investidora no projeto, viabilizando R$ 26 mil para a primeira fase, em que o protótipo deve ser lançado. Segundo os estudantes, outras empresas têm manifestado o interesse.

Magalhães ressalta que, além do aporte financeiro necessário, há uma contrapartida não financeira. “No caso, o que é usado de infraestrutura. Isso é difícil mensurar. São equipamentos como um analisador que custa US$ 70 mil. Se não estivesse aqui na universidade, precisaria de outra infraestrutura”, pontua. O professor ressalta que empresas gigantes como a Apple e a SpaceX, no início de suas histórias, também contaram com esse tipo de contrapartida, obtendo resultados dentro de universidades. Ele também lembra que é comum se falar em sucessos, mas não nos insucessos. “Lá fora, o pessoal cansou de destruir foguetes”, diz.

Lançamento

Se as etapas de planejamento e testes estipuladas pelo grupo de estudantes fluírem como esperado, eles cogitam o lançamento do protótipo para 7 de setembro deste ano. “Se tudo der certo, e a gente conseguir validar o nosso motor de propulsão híbrida, fica mais fácil para controlar quanto o foguete sobe e quanto o foguete desce”, explica o estudante Davi Sellin. 

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