'Cientistas vão começar a pensar em ir para o exterior’
Presidente da Academia de Ciências do Estado diz que País corre risco de retroceder décadas se 'desmonte' da ciência se concretizar
Entrevista com
Marcos Buckeridge
Entrevista com
Marcos Buckeridge
22 de abril de 2017 | 05h00
A ciência brasileira está “à beira de um desmonte”, que poderá levar décadas para ser revertido, segundo o biólogo Marcos Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e professor do Instituto de Biociências da USP. “Nós levamos um tempo enorme para atingir um patamar de nível mundial; e vamos voltar ao que éramos quando a gente era uma ciência de terceiro mundo.”
Esse desmonte já está acontecendo ou é um risco futuro?
Nós ainda temos uma gordura para queimar, enquanto os projetos continuarem, mas se essa situação perdurar por mais dois ou três anos acho que vai começar a haver uma desmobilização. Os cientistas vão começar a pensar em ir para fora do País ou fazer uma ciência mais barata, que é o que nós fazíamos nas décadas de 1970 e 1980.
Mas como manter o orçamento em tempos de crise?
Se houver um vácuo e a gente não conseguir remontar o sistema, isso vai custar mais caro do que o dinheiro que a gente está deixando de gastar agora. Ciência não é gasto, é investimento. Quando você economiza em gasto é uma coisa; quando você economiza em investimento, você paga mais caro lá na frente.
Pode dar um exemplo de algo que a ciência já fez pelo Brasil?
O agronegócio brasileiro não existiria sem a Embrapa, sem a Unicamp, a USP e tantas outras instituições de pesquisa. Uma variedade de soja hoje tem uma tecnologia embarcada que pode ser comparada à de um telefone celular. É isso que fez do Brasil uma potência agrícola.
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