Estudo desafia ligação entre El Niño e aquecimento global

Fenômeno de 1918 foi quase tão intenso quanto o atual e ocorreu muito antes da mudança climática

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Por David Fogarty
Atualização:

Uma pesquisa que prova que o El Niño de 1918 foi muito mais intenso do que se pensava contesta a noção de que a mudança climática está intensificando esse fenômeno natural, disse um cientista dos EUA nesta terça-feira, 24.

 

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O El Niño provoca regularmente um caos climático global, causando inundações em alguns lugares e secas em outros. No século XX, o fenômeno teve suas consequências mais graves nas temporadas de 1982/83 e 1997/98.

 

Mas Ben Giese, da Universidade A&M, do Texas, disse que complexos modelos informatizados demonstraram que o El Niño de 1918 foi quase tão intenso quanto, e ocorreu muito antes do aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis e pela derrubada de florestas.

 

O resultado da pesquisa é valioso por várias razões, disse Giese à Reuters falando de Perth, Austrália, onde irá apresentar o estudo em uma conferência climática. "Ela questiona a noção de que o El Niño tem ficado mais forte por causa do aquecimento global", afirmou o cientista.

 

O El Niño de 1918 também coincidiu com uma das piores secas do século XX na Índia. "Sabemos que O El Niño e a seca na Índia costumam estar mutuamente relacionados", disse Giese.

 

O El Niño é resultado de um aquecimento anormal nas águas superficiais da costa sul-americana do Pacífico, o que faz com que as chuvas habituais no oeste do oceano se desloquem mais a leste.

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Isso gera secas em partes da Austrália, Sudeste Asiático e Índia, além de inundações no Chile e no Peru, invernos mais frios e úmidos no sul dos EUA e menos furacões no Atlântico.

 

As secas de 1982/83 e 1997/98 na Austrália estão entre as piores já registradas no país. Mas o leste da ilha-continente já havia enfrentado uma forte estiagem entre 1918 e 20.

 

Giese disse que sua equipe foi pioneira em aplicar sobre um complexo modelo oceânico os resultados de um modelo atmosférico do governo dos EUA. O resultado foi uma simulação das temperaturas do mar, das correntes e de outras medições entre 1908 e 58.

 

Para 1918, a simulação produziu um aquecimento anormal da superfície marinha no Pacífico central, e um aquecimento menos intenso na costa sul-americana.

 

Houve pouquíssimas medições reais do Pacífico tropical durante 1918, último ano da Primeira Guerra Mundial. Medições feitas por navios ao longo da costa sul-americana sugeriram que aquele El Niño fora fraco.

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