Estudo mostra que maioria pode torturar se receber ordem

Psicólogo replica experimento clássico de 1961, que mostrou a disposição de pessoas comuns para causar dor

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Por MAGGIE FOX
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Há coisas que nunca mudam. Cientistas apresentaram nesta sexta-feira, 19, os resultados da repetição de um antigo estudo que provou - antes e agora - que as pessoas obedientemente torturam desconhecidos com dolorosos choques elétricos, se receberem tal ordem de uma autoridade.   Veja também: Experimento de realidade virtual cria ilusão de troca de corpo Visão influencia intensidade da dor, diz pesquisa Estudo revive teoria dos seis graus de separação  Replicating Milgram (íntegra do estudo) No experimento realizado por Jerry Burger, da Universidade Santa Clara, na Califórnia, 70% dos participantes continuaram aplicando os choques - ou pelo menos pensando que aplicavam - depois que um ator, no papel de vítima, afirmava estar sentindo dor. "O que descobrimos é a validação do mesmo argumento - se você coloca as pessoas em certas situações, elas vão agir de forma surpreendente, ou talvez até perturbadora," disse Burger por telefone. "Esta pesquisa ainda é relevante." Em 1961, o professor Stanley Milgram, da Universidade Yale, publicou um experimento em que voluntários deveriam aplicar choques (na verdade simulados) em pessoas que errassem as respostas a determinadas perguntas. Milgram relatou que, após ouvirem um ator gritar de dor sob um suposto choque de 150 volts, 82,5% dos participantes continuavam aplicando os choques, e a maioria ia à voltagem máxima 450 volts. A experiência surpreendeu psicólogos, mas nunca havia sido replicada por causa da angústia sofrida por muitos voluntários que acreditavam estar aplicando choques. "Quando você escuta o homem gritar e dizer 'Deixa eu sair aqui, não aguento mais', esse é o ponto em que aparece o verdadeiro estresse pelo qual as pessoas criticaram Milgram". disse Burger. "Foi uma experiência muitíssimo estressante para muitos dos participantes. Por essa razão ninguém pode replicar eticamente a experiência hoje." Burger na verdade adaptou a experiência, limitando o falso choque a 150 volts para os 29 homens e 41 mulheres participantes. Ele media quantos voluntários começavam a dar novos choques quando eram assim orientados pelo líder da experiência - que, no entanto, em seguida os mandava parar. Na experiência original de Milgram, os 150 volts pareciam ser o ponto em que não há mais volta. No experimento modificado de Burger, 70% dos voluntários se mostravam dispostos a dar choques mais fortes do que 150 volts. A certa altura, os coordenadores trouxeram um voluntário que sabia o que estava acontecendo e se recusou a administrar choques além de 150 volts. Apesar desse exemplo, 63% dos participantes continuavam administrando choques além dos 150 volts,. "Isso foi surpreendente e frustrante," disse Burger.   Recriação pela BBC   O "Teste Milgram" também foi recentemente replicado na Grã-Bretanha para um documentário da BBC, e os resultados também foram semelhantes.   "Não devemos concluir que esses voluntários não são mais boas pessoas - há uma enorme influência social também", explicou a psicóloga Abigail San, que coordenou a experiência.   Ela lembra que foi dito aos voluntários que os choques aplicados à outras pessoas faziam parte de uma complicada tarefa de uma pesquisa científica.   "Eles tendem a se identificar enormemente com a 'pesquisa' e deixam de prestar atenção nas súplicas dos 'torturados'", disse San. "Eles não se lembram de se perguntar qual sua posição moral diante de tudo isso."   (com BBC Brasil)  

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