Estudo mostra viabilidade de proposta brasileira na Rio+10

Uma avaliação das matrizes energéticas dos países representados na Rio+10 segue para Johannesburgo, na bagagem do físico José Goldemberg, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma avaliação das matrizes energéticas dos principais países representados na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), segue hoje para Johannesburgo, na África do Sul, na bagagem do físico José Goldemberg, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e autor da proposta brasileira de adoção de 10% de fontes renováveis de energia, em todos os países, até 2010. O estudo deverá apoiar os negociadores da Rio+10, demonstrando que a meta não está tão distante, mesmo para países fortemente influenciados pela indústria petroleira, como os Estados Unidos, que já têm 5% de sua energia proveniente de fontes renováveis. De acordo com o levantamento realizado pela equipe de Goldemberg, os países desenvolvidos em pior situação são a Alemanha e o Japão, ambos com 3,3%. O índice também é de 3,3% para os países que compunham a antiga União Soviética. Em compensação, a média dos países industrializados europeus é de 7% e há países que já estariam bem além da meta, como a Suécia, com 25,5%. A estratégia durante a Cúpula Mundial seria buscar apoio dos países europeus à proposta brasileira, discutindo tais números. A proposta já conta com o apoio dos países da América Latina e Caribe, mais Portugal e Espanha. Existe uma grande pressão da opinião pública canadense para que o país se desvincule da posição norte-americana nesta matéria e representantes do Japão também teriam se aproximado de negociadores brasileiros, interessados em detalhar melhor a proposta. Vale lembrar que Japão e Canadá fazem parte do grupo de negociação ao qual pertencem os Estados Unidos, junto com Austrália e Nova Zelândia (Juscanz). Resistência A intenção é também quebrar a resistência dos Estados Unidos, com a argumentação de que o porcentual de fontes renováveis poderia ser alcançado com energia nova, sem necessidade de diminuir a produção de petróleo atual. Ou seja, na contabilidade ambiental, haveria uma estabilização nas emissões por queima de combustíveis fósseis e os eventuais acréscimos na produção de energia seriam derivados de fontes renováveis, entre as quais a biomassa "moderna" poderia figurar como carro-chefe. Biomassa "moderna" é o álcool de cana de açúcar, de madeira ou de restos vegetais de lavouras, a eletricidade produzida a partir de bagaço de cana ou co-geração de processos agroindustriais e biogás de lixo ou resíduos sólidos. Novas fontes renováveis ainda incluem pequenas hidrelétricas, energia solar, eólica, geotérmica e marinha. "O Brasil tem uma posição razoavelmente confortável, com 38,6% de fontes renováveis", pondera Goldemberg. "Mesmo se excluíssemos a hidroeletricidade, como propõe a União Européia, o porcentual de biomassa moderna e novas fontes renováveis ainda seria de 20,5%." O risco para a matriz brasileira, no entanto, está no combustíveis das novas térmicas ou no aumento de importação de carvão. "O gás natural é uma opção mais aceita, mas o carvão mineral, de qualquer tipo, é um passo na direção errada", observa o secretário, comentando a notícia, divulgada há uma semana, de que a Companhia Vale do Rio Doce fechou um acordo com a China para importação de carvão. O minério seria trazido nos navios, que do contrário voltariam vazios, depois de levar o minério de ferro brasileiro para a China. "Pode fazer sentido economicamente, mas ambientalmente é um passo para trás", alerta Goldemberg. "Sobretudo em se tratando do carvão da China, que é de má qualidade e cujas emissões, além do gás carbônico (o principal gás do efeito estufa) estão cheias de dióxido de enxofre (o gás da chuva ácida) e outros poluentes". Em São Paulo, garante o secretário, nenhuma térmica a carvão terá licenciamento ambiental. Veja o Especial Rio+10

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.