Estudos contestam eficácia de célula-tronco adulta

Células da medula não se transformaram em células cardíacas, como esperavam pesquisadores

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Por Agencia Estado
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Dois estudos publicados nesta semana pela revista Nature jogam um balde de água fria nas pesquisas que utilizam células-tronco adultas extraídas da medula para tratamento de problemas cardíacos. Um deles diz claramente que os testes em seres humanos são "prematuros". Não que eles contestem o resultado da terapia: a dúvida é sobre o mecanismo que produz a melhora. Nenhum dos dois estudos, feitos com camundongos nos Estados Unidos, constatou a transformação das células-tronco em células cardíacas nem sua fusão com essas células, duas das hipóteses para explicar o sucesso da terapia. Com isso, fica mais forte a tese de que as células-tronco estimulam a angiogênese, isto é, o processo de formação de novos vasos sanguíneos. Os cientistas, porém, afirmam que são necessárias novas pesquisas antes que as células-tronco de medula sejam usadas em larga escala em seres humanos. Transplantes O estudo coordenado por Loren Field, biólogo molecular da Universidade de Indiana, mostrou que as células de medula não dão origem a células cardíacas, contestando estudos anteriores. "Sabemos que há angiogênese - ou porque as células estimulam a formação de novos vasos ou, mais provavelmente, porque as células-tronco liberam citoquinas que promovem a angiogênese", disse em entrevista. Field não encontrou uma única célula cardíaca derivada de célula-tronco de medula nos 145 corações de camundongos submetidos à terapia. Leora Balsam, da Universidade de Stanford, usou GFP (gene fosforescente de água viva) para acompanhar a trajetória das células-tronco de medula em camundongos e usou anticorpos específicos de músculos lisos, músculo cardíaco e endotélio para verificar se elas se transformavam em células do coração. Nada. "As células ou morrem ou migram para outra do corpo", disse a médica. Brasil No Brasil, os pesquisadores da área se reúnem nesta semana com Reinaldo Guimarães, diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde, justamente para discutir o avanço da técnica e a viabilidade de implantá-la na rede pública de saúde. "Os resultados em seres humanos são os que realmente contam", diz o biólogo Radovan Borojevic, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que não acha relevantes os dados das duas pesquisas americanas. Borojevic está preparando um trabalho no qual vai mostrar que as células da parede dos novos vasos migram e se transformam em células do coração. Os cientistas vão pedir que o uso de células-tronco em pacientes graves, com lesões extensas e que estão na fila de transplantes, seja liberado. "São pacientes que, sem essa técnica, tendem a evoluir muito mal, um quadro em que só o que podemos fazer é aliviar a dor e esperar por um transplante", explica. Mas eles vão pedir também a ampliação dos estudos com pacientes com infarto agudo do miocárdio. "Espero que o Ministério apóie a proposta de fazer um estudo multicêntrico duplo cego, isto é, em que parte dos pacientes receba as células-tronco e outros não, mas nem eles saberão em que grupo estão."

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