Evolução, parte 2: cada macaco no seu galho, mas com muito em comum

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Por Redação
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Imagine só: Vistos por fora, homem e chimpanzé parecem muito diferentes. Mas as aparências enganam. Geneticamente, somos 98% idênticos! Isto é: se você colocar o seu DNA lado a lado com o DNA de um chimpanzé, eles serão 98% idênticos, letra por letra. E se o DNA é o que nos faz ser o que somos, então não somos tão diferentes assim.   Essa semelhança genética traz revelações importantes sobre as origens do ser humano e de todas as outras espécies do planeta. Quando Charles Darwin e Alfred Russel Wallace publicaram a teoria da evolução por seleção natural, 150 anos atrás (em 1º de julho de 1858), a genética nem existia. Ninguém nunca havido ouvido falar de DNA, genes ou cromossomos. Tinha-se a noção de hereditariedade, mas ninguém sabia como as características eram passadas de pai para filho.   Hoje, porém, sabemos muito sobre genética - e é esse conhecimento, mais do que qualquer outro, que nos dá a certeza de que Darwin e Wallace estavam corretos em suas observações da natureza.   A mesma comparação que é feita entre homem e chimpanzé pode ser feita entre todos os seres vivos do planeta. Pois hoje sabemos que todas formas de vida da Terra, desde a menor das bactérias até a maior das baleias no oceano, têm algo essencialmente em comum: DNA.   Se você abrir as células de qualquer bicho, planta ou micróbio, vai encontrar sempre essa mesma molécula. O seu DNA é igual ao DNA da barata, do milho, do arroz, do rato, da baleia, da ameba, das bactérias - só muda mesmo a seqüência e a quantidade das letras. Geneticamente, por dentro, falamos todos a mesma língua, não importa como essa linguagem se traduza visualmente no espelho.   E se todos falamos a mesma língua, a conclusão é que todos viemos de um ancestral comum. A idéia, como abordei na minha coluna da semana passada, é que todos os seres vivos do planeta evoluíram de uma única forma de vida primordial, muito simples, que um dia aprendeu a "falar DNA" e nunca mais largou desse dicionário.   Com o tempo, muitos dialetos surgiram (gatos, ratos, peixes e abobrinhas), mas o alfabeto e a gramática fundamental permanecem os mesmos: longas seqüências A, T, C e G que são transcritas em RNA mensageiro e traduzidas em proteínas.   Sempre que uma célula se divide, o DNA precisa ser copiado, e nesse processo alguns "errinhos" sempre acabam aparecendo. São as famosas mutações, que dependendo de onde ocorrem no genoma podem ser benéficas, maléficas ou simplesmente irrelevantes. Isso ocorre, inclusive, na duplicação de células germinativas (óvulos e espermatozóides), que é a base da variabilidade genética entre indivíduos.   Imagine, portanto, quantas mutações já não ocorreram ao longo de 3,8 bilhões de anos, desde o surgimento das primeiras formas de vida na Terra!   O mais legal - voltando ao chimpanzé - é que esse acúmulo de mutações permite aos cientistas estimar a distância evolutiva entre espécies. Os pesquisadores sabem que mutações ocorrem aleatoriamente de tanto em tanto tempo, por isso podem comparar os genomas de duas espécies e calcular, com base nas semelhanças e diferenças, há quanto tempo elas divergiram de um ancestral comum. No caso do homem e chimpanzé, estima-se pelo "relógio molecular" que essa separação tenha ocorrido entre 5 e 7 milhões de anos atrás. (Atenção: nós não evoluímos do chimpanzé, nós temos um ancestral comum com ele. São coisas bem diferentes.)   Dos gorilas, nós nos separamos um pouquinho antes: entre 6 e 8 milhões de anos atrás. Dos orangotangos, entre 12 e 20 milhões de anos atrás. E assim por diante, espécie por espécie, até chegarmos a um ancestral comum de todos os seres vivos, cerca de 4 bilhões de anos atrás.   Aliás, vale a pena dizer que somos também 90% geneticamente idênticos ao rato. Pense nisso a próxima vez que armar uma ratoeira ou olhar para um chimpanzé no zoológico.

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