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Ex-moradores do Recanto dos Pássaros ficam sem assistência da Shell

Acordo que deve beneficiar ex-trabalhadores não vai beneficiar famílias; empresa diz que contaminação não atingiu moradores

Por Ricardo Brandt e Clarice Cudischevitch
Atualização:

A fábrica de agrotóxicos pertenceu às duas companhias e funcionou no local de 1977 a 2002, quando foi interditada pelo Ministério do Trabalho, depois que análises na região constataram a presença de organoclorados e metais pesados no solo e em amostras de água subterrânea. Durante 30 anos, as empresas manipularam no local produtos de alta toxicidade, para fabricação de pesticidas à base aldrin, endrin e dieldrin. Dos 1.068 ex-funcionários e dependentes que integram a ação, pelo menos 61 já morreram."Eles estavam na faixa dos 55 anos e morreram com câncer. Agora que temos tratamento pago pelas empresas e para nossos filhos, poderemos fazer acompanhamento preventivo de nossas saúdes", conta Antonio Rasteiro, que trabalhou na Shell/Basf e hoje faz parte da Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas (Atesq).Indenização. As famílias que tiveram que deixar o Recanto dos Pássaros temem pelos efeitos mutagênicos das substâncias que eram manipuladas na fábrica e esperam obter compensações semelhantes às que serão obtidas pelos ex-trabalhadores. As 1068 pessoas envolvidas na ação devem receber, em média, R$ 180 mil cada uma por danos morais individuais, além de assistência média vitalícia. A Shell também deve pagar R$ 200 milhões em danos morais coletivos, dos quais R$ 50 milhões serão destinados para a construção de uma maternidade em Paulínia. Do restante, 50% são destinados à Fundacentro e 50% ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), em Campinas. Não havendo nenhuma mudança, o acordo deve ser aprovado e assinado nas próximas semanas pelo Tribunal Superior do Trabalho.Segundo a procuradora de Meio Ambiente de Paulínia, Kelli Altieri, que acompanha o caso dos ex-moradores desde o começo, a ação civil pública movida há mais de dez anos prevê indenização e custeio do tratamento de saúde, mas não há nenhuma previsão de avanço no processo: "Não passamos nem da fase instrutória, a perícia ainda não foi realizada". Também foi feito um TAC - Termo de Ajuste de Conduta - prevendo a recuperação ambiental da área, que está sendo cumprido pela Shell, mas deve passar por um aditamento considerando mudanças ambientais e tecnológicas. De acordo com as pessoas que viviam no Recanto dos Pássaros, a única assistência dada pela Shell foi em relação à moradia, mas os custeios de saúde foram providenciados, inicialmente, pela Prefeitura que, por volta de três anos depois, parou de pagar o tratamento e os remédios. A ex-moradora do Recanto dos Pássaros Cleuza do Carmo diz que a Shell nunca propôs nenhum acordo.

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