Expedição traça o perfil da água brasileira

Casal sobrevoa o País coletando amostras, e alerta que Pantanal já tem alta contaminação

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Por Agencia Estado
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A expedição ainda está no início, mas as viagens do casal Gérard e Margi Moss para traçar um perfil da qualidade das águas do País já trazem um alerta. Mais da metade das amostras colhidas no Pantanal, considerado Patrimônio Natural da Humanidade, apresentou níveis elevados de nutrientes, o que indica contaminação por esgoto não tratado e pelo uso em larga escala de fertilizantes nas lavouras de soja. "Foi um resultado surpreendente, que nos deixa ainda mais convencidos da necessidade e urgência de um levantamento como o nosso", afirma Gérard Moss. Os primeiros resultados da expedição serão apresentados pelo casal, em Brasília, neste 22 de março, Dia Mundial da Água. Batizado de Brasil das Águas, o projeto vai traçar uma análise da situação de pelo menos mil pontos de rios e lagos do País. A meta é cumprir a missão até o fim ano. Para isso, o casal deve percorrer até dezembro, principalmente com um pequeno hidroavião, 100 mil km, distância equivalente a duas voltas e meia na Terra. Rotina puxada Para cumprir o objetivo, o casal mantém uma rotina puxada: viagens mensais de 15 dias, intercaladas com 15 dias em sua casa, no Rio, para acertar detalhes da próxima etapa e enviar material para análise em laboratórios oficiais. "Tivemos um problema com o hidroavião, o que atrasou um pouco o cronograma, mas agora está tudo solucionado", observou Moss. Nos primeiros cinco meses, Gérard e Margi percorreram 10 mil km e recolheram mais do que 400 amostras em rios e lagos. A maior parte das viagens ocorreu nas regiões Sul e Sudeste. Moss não revela onde, mas afirma que o casal encontrou, sim, em alguns locais, águas até agora intocadas. Muitas amostras O material coletado por Gérard e Margi é enviado para laboratórios de universidades do País para que diversos testes sejam realizados, todos com o intuito de determinar a qualidade da água. Os resultados são avaliados pelo limnólogo José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia (IIE). Além disso, uma parte do material também é usada em algumas pesquisas em andamento. "É uma forma de colaborar com a comunidade científica. Dificilmente eles teriam amostras de tantos locais do País", disse Moss. "Com uma só metodologia, queremos detectar áreas com problemas e áreas preservadas. Certamente este perfil será importante para traçar estratégias de conservação e recuperação dos nossos recursos. Não há dúvida de que a água exercerá uma função estratégica para o País dentro de pouco tempo", prevê o explorador. Escassez As previsões de Moss se justificam. Coordenadores do IV Fórum Mundial da Água, conferência que será realizada em 2006, no México, alertam que cerca de 4 bilhões de pessoas poderão sofrer de escassez de água até 2025. Um número três vezes maior do que o registrado atualmente. Embora a América Latina e o Caribe disponham de vastos volumes de água, com um terço dos recursos renováveis do globo, a região já enfrenta o problema da escassez, sem falar da má qualidade do recurso e ausência de saneamento. Pelos cálculos da coordenação do Fórum, atualmente 1,2 bilhão de pessoas no mundo carecem de água potável e 2,4 bilhões não têm serviços sanitários. Tais carências são uma porta aberta para problemas de saúde. Estima-se que 5 milhões de pessoas morrem anualmente por causa de doenças provocadas pela falta de saneamento, principalmente a diarréia.

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