PUBLICIDADE

Experimento de realidade virtual cria ilusão de troca de corpo

Arranjo transfere 'sensação de dor' provocada em um corpo artificial para a consciência de um voluntário

Por Karl Ritter e da Associated Press
Atualização:

Apertar a mão de si mesmo pode ser uma divertida experiência fora do corpo. Já a ilusão de ter o vente rasgado por uma faca de cozinha não é tão agradável. Realidade virtual induz 'experiência fora do corpo' Ambas as sensações, no entanto, pareceram reais para os participantes de um projeto científico sueco que explora como as pessoas podem ser levadas á falsa percepção de que têm um outro corpo. Em estudo apresentado nesta terça-feira, 2, neurocientistas do Instituto Karolinska de Estocolmo mostram como voluntários usando óculos de realidade virtual experimentaram a ilusão de trocar de corpo com um manequim ou com outra pessoa. "Estávamos interessados numa questão clássica que filósofos e psicólogos discutem há séculos: por que achamos que o ego está em nossos corpos", disse o líder do projeto, Henrik Ehrsson. "para estudar isso cientificamente usamos truques, ilusões de percepção". Pareceu intrigante o bastante para eu tentar, embora, ao entrar no laboratório, tenha pensado em mudar de idéia. As primeiras coisas que vi foram duas facas de cozinha, três manequins pelados e uma mão protética aparecendo por trás de uma cortina. "Você tem o direito de pedir para parar a qualquer momento em que se sinta desconfortável", disse a colega de Ehrsson, Valeria Petkova,  enquanto esfregava gel eletrolítico em minha mão esquerda e punha eletrodos nos dedos médio e indicador. Ela me garantiu que não haveria perigo. Mesmo assim, um arrepio nervoso percorreu meu corpo quando ela pôs o capacete com os óculos em minha cabeça. No primeiro experimento, os óculos foram ligados a câmeras de um circuito interno de televisão montadas na cabeça de um manequim masculino, olhando para os próprios pés. Pelo aparelho eu vi uma imagem granulada do torso de plástico do boneco. Inclinei a cabeça, para criara  sensação de que estava olhando para meu próprio corpo.  Nesse momento, a situação não pareceu muito real. Mas quando Petkova encostou canetas ao mesmo tempo na minha barriga e na do manequim, o efeito começou a aparecer. À medida que meu cérebro processava os sinais do tato e da visão, tive a impressão crescente de que o corpo do manequim era o meu. Foi bem divertido, até que a lâmina brilhante de uma faca de pão entrou no meu campo visual. Petkova fez a faca deslizar pela barriga do boneco, o que me causou arrepios e enviou pulsos de ansiedade pelos eletrodos. Meu nível elevado de estresse foi ilustrado por um pico no diagrama de computador que me mostraram após o experimento. "De 70% a 80% das pessoas experimentam a ilusão com muita força", disse Petkova. Aparentemente, era o meu caso. O segundo experimento foi mais benigno. Desta vez, meu capacete foi conectado a câmeras montadas num chapéu que Petkova estava usando. Nós encaramos um ao outro, estendemos nossos braços direitos e apertamos as mãos. Agora, isso foi estranho: eu devia estar tendo a sensação de apertar a minha mão. A ilusão não foi perfeita, já que eu podia realmente reconhecer a pressão da mão de Petkova como se fosse minha, embora os óculos estivessem lá para me fazer acreditar nisso. Talvez a sessão tenha sido curta demais. o estudo real, no qual 87 voluntários tomaram parte, consistiu de sessões repetidas que, gradualmente, forneceram dados mais acurados. Os resultados da pesquisa foram publicados no PLoS One, o periódico eletrônico da Biblioteca Pública de Ciência dos EUA. A descoberta principal foi que, sob certas circunstâncias, uma pessoa pode perceber outro corpo como sendo o seu, mesmo que seja do sexo oposto ou um corpo artificial. "Essas descobertas são de fundamental importância, porque identificam os processos perceptuais que nos fazem sentir donos de nossos corpos", diz o estudo. Ehrsson diz que o trabalho amplia experimentos anteriores conhecidos como a "ilusão da mão de borracha", no qual participantes são induzidos a sentir uma mão de borracha como se fosse deles. Charles Spence, professor de psicologia da Universidade Oxford, disse que o estudo do Karolinska era um "passo adiante" em relação a outras pesquisas sobre o assunto. Sua preocupação é com o que tipo de efeito o processo poderia ter nos voluntários. "A questão é, o que acontece se você fizer isso por muito tempo? Se você estiver nisso por   dias e semanas. Será algo como algo saído do Vingador do Futuro?", disse Spance, referindo-se ao filme de 1990, estrelado por Arnold Schwarzenegger, no qula uma experiência de realidade virtual transforma-se num pesadelo. Ehrsson sugere que as descobertas poderiam ser aplicadas a pesquisas sobre distúrbios de auto-imagem, explorando como as pessoas chegam a se sentir satisfeitas ou insatisfeitas com seus próprios corpos. Outra possível aplicação poderia ser no desenvolvimento de jogos de computador.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.