Extinção em massa que acabou com dinossauros favoreceu evolução de sapos e rãs, diz estudo

Segundo pesquisa realizada por cientistas da China e Estados Unidos, a catástrofe que acabou três quartos das espécies de animais existentes no planeta há 66 milhões de anos abriu espaço para a a multiplicação dos anfíbios que vivem em árvores

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Há 66 milhões de anos, um evento de extinção em massa eliminou os dinossaurose três quartos das espécies de seres vivos da Terra. Mas essa catástrofe global também representou uma grande oportunidade para os sapos e rãs, cujas espécies se multiplicaram como nunca, de acordo com um novo estudo.

De acordo com a nova pesquisa, o meteoro que provavelmente causou o cataclisma do período Cretáceo é o responsável pelo surgimento de 88% das espécies hoje existentes de sapos e rãs.

A perereca Boophis marojezensis, endêmica das florestas de Madagascar, na África, foi uma das espécies que evoluiu após a extinção dos dinossauros, tirando vantagem do avanço das florestas e dosnichos ecológicos que antes eram ocupados por outros animais. Foto: Brian Freiermuth

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O estudo realizado por cientistas da Universidade Sun Yat-Sen, da China, da Universidade do Texas em Austin, da Universidade da California em Berkeley e do Museu de História Natural, nos Estados Unidos, foi publicado hoje na revista científica PNAS.

"Os sapos e rãs já estavam por aqui há mais de 200 milhões de anos, mas nosso estudo mostra que só depois da extinção dos dinossauros houve uma explosão na diversidade daqueles animais, o que resultou na vasta maioria dos sapos e rãs que vemos hoje. Essa descoberta foi totalmente inesperada", disse um dos autores da pesquisa, David Blackburn, do Museu de História Natural da Flórida.

Até agora, os biólogos tinham dificuldades para reconstruir com precisão a evolução de sapos e rãs. O estudo de fósseis e de dados genéticos limitados indicavam que as espécies modernas foram aparecendo lentamente em um período que vai de 150 milhões a 66 milhões de anos atrás. 

No novo estudo, porém, os cientistas compilaram o maior conjunto de dados genéticos sobre sapos e rãs já reunido, o que resultou na mais precisa reconstrução da trajetória evolutiva desses animais.

Segundo o estudo, a grande extinção do Cretáceo também acabou com a maior parte das espécies de sapos e rãs que existiam há 66 milhões de anos, deixando poucos sobreviventes. Mas o caminho ficou livre para que os sapos remanescentes e, a partir de então, as novas espécies se multiplicaram freneticamente em três grandes linhagens e diferentes continentes.

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Conquista das árvores. De acordo com outro dos autores, David Wake, da Universiadde da Califórnia, as espécies de sapos e rãs se multiplicaram rapidamente pelo mundo porque eles puderam colonizar diversos dos nichos ecológicos ocupados por outros animais antes da grande extinção.

"O mundo foi bastante empobrecido como resultado da grande extinção e, quando a vegetação voltou, as angiospermas (plantas dotadas de flores e frutos) começaram a dominar. A partir daí, as árvores evoluíram e os sapos e rãs se tornaram arbóreos. Isso permitiu que as espécies se multiplicassem, especialmente na América do Sul", disse Wake.

Wake explicou que as árvores são um habitat ideal para os sapos e rãs, não apenas porque permitem que eles escapem de predadores terrestres, mas também porque as folhas caídas na floresta fornecem proteção quando os anfíbios estão no chão, formando um habitat cheio de alimentos como insetos. 

As árvores e outras plantas que dão flores tiveram um grande impulso no fim do Cretáceo e estavam prontas para serem utilizadas pelos sapos e rãs quando eles se recuperaram dos efeitos da grande extinção, segundo Wake.

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"A maior parte dos sapos e rãs que existem agora prosperaram por causa do desenvolvimento direto dos ovos em situações terrestres. A combinação de desenvolvimento direto e do uso do habitat arbóreo foi o que permitiu essa grande multiplicação das espécies", disse Wake.

Para realizar o estudo, os cientistas reuniram amostras genéticas de 156 espécies de sapos e rãs combinadas com dados publicados obre mais 145 espécies. Nas amostras, elees estudaram variações em 95 genes e as compararam a estudos anteriores que avaliaram de 5 a 12 genes. Com isso, foi possível ter uma visão de alta resolução de como cada espécie se relaciona geneticamente com as demais.

Os resultados mostraram que as três linhagens incluem as 55 famílias e 6,7 mil espécies de sapos e rãs existentes atualmente tiveram origem há 66 milhões de anos, pelo menos 35 milhões de anos depois do que era indicado pelos estudos anteriores.

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