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‘Fapesp não pode fabricar produto’

Depois de Alckmin pedir ‘utilidade’ para gastos da fundação, presidente ressalta que ciência social produz política pública

Por Fabio de Castro
Atualização:
Estudos. Cientista destacou recursos dados em 2008 ao Butantã e edital sobre vacinas Foto: JF DIORIO /ESTADÃO

SÃO PAULO - O trabalho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) foi colocado em questão nesta semana. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), teria dito, em reunião com seus secretários, que a fundação gasta dinheiro com pesquisas sem utilidade prática, investindo em projetos de sociologia, enquanto deixa de apoiar o desenvolvimento da vacina contra a dengue do Instituto Butantã. O assunto foi levantado pela coluna Radar On-line, da revista Veja

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Secretários negaram a polêmica. Ao Estado, o presidente da Fapesp, José Goldemberg, considera oportuno discutir o investimento em pesquisa e destacou que a fundação investiu R$ 2 milhões só em pesquisas direcionadas ao Butantã.

Como o senhor interpreta as críticas feitas pelo governador?

Não sei o que aconteceu. Mas é provável que as declarações tenham sido interpretadas fora de contexto. Acho, porém, que é até positivo debater o investimento em pesquisa.

Por que a Fapesp considera que estudos sem aplicação prática imediata não são inúteis?

Vou dar um exemplo. Quando Nicolau Copérnico mostrou que a Terra girava em torno do Sol, muitos argumentavam que a descoberta não tinha importância. Mas mudou toda nossa visão do Universo, reduziu o poder da Igreja e produziu efeitos práticos imensos.

E quanto às ciências sociais e humanas?

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Os estudos nas áreas sociais são muito importantes, porque acabam produzindo as políticas públicas. Basta citar os trabalhos de Florestan Fernandes sobre a questão racial na sociedade brasileira e os estudos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a teoria da dependência. 

A Fapesp investe excessivamente em ciências sociais?

O número de projetos de pesquisa é grande, mas eles envolvem recursos pequenos em relação aos projetos de ciências da saúde, exatas e biológicas. Essas áreas recebem cerca de 2% dos recursos da Fapesp.

Houve investimentos da Fapesp nas pesquisas para a vacina contra a dengue do Butantã?

Sim, cerca de R$ 2 milhões foram investidos em 2008, além de muitos projetos de cientistas ligados a essas pesquisas. Além disso, a Fapesp lançou em fevereiro programa de R$ 100 milhões para apoiar projetos de pesquisa aplicada ao desenvolvimento de vacinas.

Os investimentos nos testes clínicos e desenvolvimento industrial da vacina escapam às atribuições da Fapesp?

Sim. Como o nome diz, a Fapesp tem a incumbência de apoiar o desenvolvimento científico e tecnológico. Mas há coisas que o regimento não permite que se apoie, como fabricar produtos, construir edifícios ou pagar salários.

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Como a fundação investe em inovações?

Estimulamos o setor privado. Uma das formas é o programa Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), que apoia empresas startup, onde começam as grandes inovações. Se for algo promissor, entra até na segunda fase do programa, que investe até R$ 1 milhão. A Fapesp já apoiou cerca de 1.500 startups no Estado, 150 só no ano passado.

Há parceria também com grandes empresas?

A Fapesp tem 18 convênios com grandes empresas internacionais para desenvolvimento conjunto de pesquisas. E, como são projetos de interesse das empresas, todos envolvem aplicações práticas da ciência.