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Fórum pede atenção às águas subterrâneas

Por Agencia Estado
Atualização:

A par da preocupação com a contaminação e desperdício das águas superficiais, os líderes técnicos e governamentais, reunidos em Kyoto, no 3º Fórum Mundial da Água, lançaram um alerta sobre a grave situação dos aqüíferos. Embora cerca de 1,5 bilhão de pessoas dependam, hoje, das águas subterrâneas para abastecimento, ainda faltam políticas de conservação dos aqüíferos, capazes de garantir a necessária recarga e controle da contaminação. Os casos mais graves são dos aqüíferos dos Estados Unidos, México, Índia, China e Paquistão, mas também há crise em algumas partes da Europa, África e Oriente Médio. ?O problema não é amplamente reconhecido porque acontece debaixo da terra, onde ninguém pode ver?, afirmou, em nota à imprensa, Ismail Serageldin, chefe da Comissão Mundial de Água para o Século 21 e vice presidente de programas especiais do Banco Mundial. "No entanto, em muitos locais, a situação já chegou a limites críticos e pode ser economicamente irreversível?. De acordo com os números apresentados pelo Conselho Mundial da Água, atualmente existem cerca de 800 mil reservatórios e represas, grandes e pequenos, em todo o mundo, para armazenar água de abastecimento. Através deles, porém, controla-se apenas um quinto do escorrimento superficial da água de chuva do planeta. O resto vai parar no mar, sobretudo no caso de bacias hidrográficas extremamente impermeabilizadas, ao longo das quais as cidades, estradas e mesmo determinadas práticas agrícolas inviabilizam a penetração de parte das chuvas no solo, ou a chamada recarga dos aqüíferos. Para reverter os problemas decorrentes desta falta de reposição natural ? aliada à superexploração ou contaminação de aqüíferos ? alguns países estão reabilitando velhas práticas ou adotando novas leis e medidas de emergência. Um dos exemplos de sucesso, citados durante o fórum, é o da Índia, que reformou 300 mil poços para possibilitar a infiltração da água de chuva através deles, a par da retirada para abastecimento de vilarejos. Além disso, foram construídas diversas estruturas de pequeno e médio porte para captar água de chuva e fazê-la infiltrar no solo. No sul do país, pelo menos 200 mil tanques de irrigação, a maioria deles com mais de 100 anos, foram transformados para passar a receber água tanto quanto tirar. Como resultado, numa área de 6.500km2, pequenas minas e nascentes secas voltaram a verter água. Também estão sendo reabilitadas as velhas cisternas para captação doméstica de água de chuva, que haviam sido substituídas nos tempos modernos por água encanada. No México, a superexploração do aqüífero Hermosillo obrigou à edição de uma lei especial, em 1992, segundo a qual cada habitante tem uma cota de água, que pode ser negociada. Muitos fazendeiros, apesar de ter reduzido o uso de água subterrânea para irrigação, foram inicialmente obrigados a comprar cotas extras. Diante dos custos proibitivos, gradativamente acabaram com as culturas irrigadas de alto consumo de água como milho e feijão e passaram a produzir uvas ou abóboras, de maior valor agregado por litro de água consumida. Em dez anos, a lei conseguiu reduzir o consumo das águas do Hermosillo em 50%. Na África do Sul, a disseminação de uma erva daninha exótica foi identificada como a causa do aumento de consumo de água, detectado em uma área de 10 milhões de hectares. Muito agressiva, a erva exótica tomou o lugar de algumas plantas nativas, consumindo 7% a mais de água dos solos. Uma força tarefa de 42 mil homens foi mobilizada para combater a erva invasora, num programa chamado ?Working for Waters? (Trabalhando pela Água). Estima-se que eles tenham pelo menos 20 anos de trabalho pela frente até erradicar a erva. Nos Estados Unidos, alguns subsídios agrícolas ainda favorecem a irrigação, conduzindo ao desperdício de água. Para proteger os aqüíferos norte americanos, tais subsídios terão de ser revistos e a população deverá pagar mais por frutas e vegetais domésticos ou algodão, arroz e cana-de-açúcar, que lá são culturas dependentes de irrigação. ?A reforma mais importante nas políticas de recursos hídricos, por nós recomendada, é um ajuste de preços que torne o custo de recuperação sustentável?, continua Seralgedin. ?Fazendeiros, indústrias e consumidores se acostumaram à água gratuita ou subsidiada, tanto nas nações ricas como nas pobres, o que deturpou o uso da água e levou à superexploração e ao desperdício dos aqüíferos?. Sal e poluentes Outro problema sério é a contaminação dos aqüíferos. Não só por poluentes, mas também pela água do mar. Quando os aqüíferos são litorâneos, o excesso de uso e conseqüente rebaixamento do nível das águas subterrâneas pode levar à salinização por contaminação da água do mar. É o que vem acontecendo na Tailândia e em diversas ilhas da Indonésia. A contaminação por água salgada é praticamente irreversível e, em alguns casos, atinge todo o aqüífero, afetando igualmente as cidades e consumidores localizados no interior, muito longe do mar. A contaminação por poluentes também é grave e bem mais difícil de reverter do que a poluição de águas superficiais. ?Aqüíferos são gigantescas esponjas subterrâneas, dentro das quais a água se move muito lentamente, alguns poucos centímetros por dia?, explica William Cosgrove, diretor de uma espécie de pré-secretariado da Comissão Mundial da Água. ?Uma vez que a poluição penetra ali, leva muito mais tempo para ser eliminada do que em lagos ou rios. E alguns poluentes ficam presos ao solo, persistindo por muito tempo. Limpar isso é extremamente caro e difícil?.

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