Fóssil de 6 milhões de anos é de um hominídeo

Reconstituição do fêmur mostra que o Orrorin tugenensis era bípede. É o registro mais antigo de postura ereta no mundo

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Por Agencia Estado
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Em 2000, quando Martin Pickford e Brigitte Senut descobriram no oeste do Quênia restos fósseis do que se assemelhava a um chimpanzé - e disseram que ele era o mais antigo ancestral humano, com 6 milhões de anos -, a comunidade científica foi cética. Os poucos restos do Orrorin tugenensis, batizado pela dupla de "Homem do Milênio", não eram suficientes para colocar na descoberta o carimbo de hominídeo. Em um estudo publicado agora na revista científica Science, pesquisadores afirmam que o Orrorin é, sim, um hominídeo. Postura ereta O trabalho, liderado por Robert Eckhardt, do laboratório Morfologia e Mecânica Comparada da Universidade Estadual da Pensilvânia, Estados Unidos, usou tomografia computadorizada para reconstituir o fêmur do Orrorin a partir de um pedaço da perna esquerda, encontrado por Pickford e Senut. "Temos evidência sólida de que a primeira postura ereta e de andar bípede é de 6 milhões de anos", disse ele no artigo. As medições feitas por Karl Galik, da Universidade de Pittsburgh, e um dos co-autores do estudo, mostraram que o osso tinha tamanho semelhante ao do de um chimpanzé. O mais antigo? Ocorre que imagens de tomografia computadorizada feitas do osso mostraram que sua parte de cima, que se liga à bacia, é mais fina do que a sua continuação, em direção ao joelho. Segundo os pesquisadores, trata-se de uma evidência de que o Orrorin andava sobre duas pernas e não sobre quatro. Não se sabe ainda, no entanto, se ele pode mesmo ser chamado de o mais antigo hominídeo. Em 2002, Michel Brunet encontrou no Chade (África) o crânio daquele que seria o mais antigo ancestral humano, o Sahelanthropus tchandensis, com uma idade entre 6 e 7 milhões de anos. Contestação O crânio, batizado de Toumai - palavra que significa esperança de vida em uma língua local -, ainda tem sua relação com os hominídeos contestada. A primeira pessoa a colocar em dúvida a relação de Toumai com os hominídeos foi justamente Senut, causando uma polêmica histórica que foi parar nas páginas da revista científica Nature. Nela, Senut diz que Toumai seria uma fêmea ancestral de um gorila. Brunet não gostou da provocação. A fogueira das vaidades científica só será resolvida com mais análises de fragmentos ou descoberta de mais fósseis.

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