G-77 aprova metas regionais para energia renovável

A Arábia Saudita opunha resistência à proposta, mas concordou em torná-la a posição comum do bloco dos países em desenvolvimento

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Por Agencia Estado
Atualização:

Os últimos obstáculos foram removidos hoje para a aceitação, pelo G-77 - o bloco de países em desenvolvimento ao qual pertence o Brasil -, do conceito de metas regionais voluntárias para o uso de fontes renováveis de energia. A Arábia Saudita, que opunha a maior resistência à proposta, concordou em torná-la a posição comum do bloco. Fora do G-77, os Estados Unidos e o Japão se mostraram favoráveis à idéia. A União Européia ficou de pensar. A linguagem ficará aquém da proposta original brasileira, de meta de 10% até 2010 para todos os países do mundo, excluindo as grandes hidrelétricas, que causam danos ao meio ambiente. A solução de compromisso, proposta pelo Irã, facilitador do G-77 nesse tema, as incluirá. A iniciativa do Brasil foi assumida pela América Latina e o Caribe. A África tem uma iniciativa semelhante. A União Européia propõe meta global de 15% até 2010, mas com aumento de apenas 2% dos países industrializados, cuja média de uso de renováveis é hoje de 5,6%. A China e a Índia já têm fatias maiores que 10% de fontes renováveis em suas matrizes energéticas. O resto da Ásia, a América do Norte e a Oceania ficariam livres para adotar ou não metas regionais. "A maior parte do mundo já as tem", sublinhou Everton Vargas, diretor da Divisão de Meio Ambiente do Itamaraty. Os negociadores brasileiros argumentam que a solução é um avanço em relação à reunião preparatória de Bali (entre maio e junho), quando os países exportadores de petróleo, que integram o G-77, rejeitaram por princípio a noção de metas do uso de fontes renováveis, que concorrem com o petróleo. Segundo o chanceler Celso Lafer, o Brasil ainda insistirá numa meta global. "Apoiamos o Brasil para que a iniciativa siga adiante", disse o diretor-geral de Energia e Meio Ambiente do México, José Garibaldi. "Esse é um grande trabalho que o Brasil está fazendo, junto com o México e com toda a América Latina." A expectativa do Brasil e seus aliados, a partir da aprovação das metas regionais no G-77, é avançar nas negociações para tornar a iniciativa latino-americana e a da União Européia uma só. Os negociadores brasileiros tentam convencer a UE a ampliar de 2% para 4% a sua fatia, de modo que, somando à sua média de 5,6%, se alcance a meta de 10% proposta pelo Brasil. "Não será uma meta global, mas será transatlântica", disse uma fonte. "A partir daí, num processo de construção de blocos, com acordos mútuos, podemos caminhar para a meta global." Biodiversidade - O Brasil e seus aliados "megadiversos" estão negociando com os países industralizados a vinculação entre uma meta de redução das perdas da biodiversidade e a criação de um regime internacional de repartição de benefícios. Esse regime poderia conduzir futuramente a uma convenção complementar à da Biodiversidade, firmada durante a Rio-92. O Brasil se diz favorável, em princípio, a estabelecer meta de redução das perdas de biodiversidade. Mas quer que, como contrapartida, as companhias dos países industrializados repartam com os países que detêm a biodiversidade os lucros obtidos com a exploração desses recursos naturais e dos conhecimentos das populações locais. A anfitriã África do Sul, que pertence ao grupo dos 15 megadiversos, está se empenhando em favor dessa idéia, única chance de a cúpula de Johannesburgo resultar numa nova convenção. Mas as negociações são duras, em função dos interesses econômicos em jogo.

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