PUBLICIDADE

Gravidez precoce atinge 25% das mães latino-americanas

Estudo do Cepal aponta que Brasil e Colômbia têm altos índices de mulheres com filhos antes dos 20 anos

Por Marcia Carmo
Atualização:

Um estudo divulgado nesta quinta-feira pela Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe, ligada à ONU) revela que 25% das adolescentes da América Latina foram mães antes de completar 20 anos. O número é considerado alto pelos especialistas e foi influenciado, principalmente, pelos altos índices de gravidez na adolescência no Brasil e na Colômbia, segundo disse à BBC Brasil o sociólogo e demógrafo Jorge Rodríguez, que trabalhou no estudo e pertence ao Celade (Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia), ligado à Cepal.  "A situação no Brasil teve uma leve melhora entre 1996 e 2006, mas os números ainda são altos", afirmou. Ele lembrou que, de acordo um levantamento do PNDS (Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, do Ministério da Saúde) a cifra de mulheres que têm filhos antes dos 20 anos é de 32,8% - bem acima dos 25% da média regional.  A pesquisa mostra que na América Latina há 76,2 nascimentos para cada mil adolescentes com idades entre 15 e 19 anos, enquanto no resto do mundo a média é de 52,6 nascimentos por mil. No Brasil, a média é de 83 nascimentos a cada mil adolescentes. Uma melhora em relação a 1996, quando a cifra era de 86 filhos a cada mil.  Mas a situação no Brasil continua mais delicada do que em alguns dos países vizinhos. No Paraguai, a média é de 63 nascimentos a cada mil adolescentes.  No Chile, onde a média era de 80 nascimentos a cada mil entre 1986 e 1996, este número caiu para 50 nascimentos a cada mil adolescentes - apesar de este ter sido um dos últimos países da região a permitir campanha pelo uso de preservativo. A situação é mais crítica nos países da América Central, como Guatemala (114 nascimentos por mil) e Republica Dominicana, que registra o percentual mais alto - 116 a cada mil. Os altos índices de nascimentos entre mães de até 20 anos ocorrem apesar de o índice de natalidade em todas as faixas etárias na América Latina estar abaixo da média mundial.  Em média, cada mulher da região tem 2,4 filhos, enquanto no resto do mundo esta média é de 2,6 filhos.  No Brasil, a média é de 1,8 filhos por mulher. Início precoce Na opinião da Cepal, a "disparada" da maternidade entre as adolescentes da América Latina ocorre devido à falta de programas de educação sexual e de políticas públicas de saúde para responder ao início, cada vez mais precoce, da vida sexual. "No mundo inteiro, as adolescentes começam a vida sexual cada vez mais cedo. A diferença é que, nos países desenvolvidos, a atividade sexual na adolescência é acompanhada por anticoncepcionais", diz o estudo. Na América Latina a situação é diferente.  "A informação sobre o uso de contraceptivos começa depois que a jovem teve o primeiro filho (..) Parece que começam a reconhecer a mulher como sujeito sexual depois que ela é mãe", diz o estudo. Para a Cepal, o quadro é resultado de "estigma social" e "rejeição familiar", que impedem que a adolescente procure informações e o serviço adequado para se prevenir.  Ao mesmo tempo, o estudo ressalta que a maternidade entre adolescentes é registrada, principalmente, nas classes mais pobres. A pesquisa da Cepal e da Organização Ibero-americana da Juventude (OIJ) - "Juventude e Coesão Social na Iberoamérica: um Modelo para Montar" (numa tradução livre) - foi divulgado na 18º Reunião Ibero-americana realizada em San Salvador, em El Salvador. O levantamento destaca que a maternidade antes dos 20 anos contribui para a geração de pobreza.  "A maternidade leva estas adolescentes a deixarem os estudos, se ainda não os deixaram", disse Rodríguez.  A pesquisa foi realizada no Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Guatemala, Honduras, Nicarágua e República Dominicana.  Rodríguez informou que o estudo foi realizado a partir dos últimos dados divulgados em cada país.   BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.