Greenpeace quer evitar passagem de navios com carga nuclear

Navios britânicos, que carregam plutônio suficiente para construção de 50 bombas nucleares, podem seguir rota que passa pelo litoral brasileiro

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Greenpeace enviou carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso pedindo que o governo brasileiro seja contrário à passagem de dois navios britânicos com carga nuclear no litoral brasileiro. Eles sairão do Japão, durante o mês de junho, carregando plutônio suficiente para a construção de 50 bombas nucleares, segundo a organização não-governamental. A carga será levada do Japão para o Reino Unidos. A rota a ser seguida pelos navios Pacific Pintail e Pacific Teal é sigilosa, mas o ministério de Relações Exteriores do Japão disse que três estão sendo consideradas. Uma seria via Canal do Panamá e Mar do Caribe. A segunda opção seria passar pelo Cabo da Boa Esperança, contornando a África. A terceira seria contornar a América do Sul, pelo Cabo Horn. Se essa última rota for adotada, os navios passariam por todo o litoral brasileiro. O transporte foi motivado por uma falsificação praticada pela empresa British Nuclear Fuel Ltda. na fabricação do combustível de plutônio. O material, na forma de óxido misto de urânio e plutônio (MOX), foi enviado em 1999 pelos britânicos para ser usado nas usinas nucleares japonesas. Descobriram que dados importantes de controle de qualidade na fabricação do material foram falsificados, comprometendo a segurança do produto. Com isso, os japoneses exigiram a devolução do plutônio para o Reino Unido, como condição da assinatura de novos contratos. Caso esses contratos sejam assinados, cerca de 80 novos transportes de plutônio poderão ser feitos pelos oceanos na próxima década, segundo o Greenpeace. Em tentativas anteriores de transporte de material nuclear pelos oceanos, 50 países, entre eles o Brasil, foram radicalmente contrários, por causa do risco de acidente. ?É inaceitável que se coloque metade do planeta em risco para a viabilização de um transporte que beneficia somente a indústria nuclear de dois países?, apontou Cláudia Focking, Gerente de Campanhas do Greenpeace Brasil, em nota divulgada pela entidade. O transporte contraria a Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar em diversos pontos, tais como: ausência de estudo de impacto ambiental, falta de consulta prévia aos países na rota e falta de seguro para a cobertura de danos resultantes de um eventual acidente ou atentado terrorista envolvendo liberação de material radioativo. O Greenpeace lançou uma campanha para evitar que os oceanos se tornem uma rota constante para os transportes nucleares e para impedir o comércio de plutônio. ?Acidentes acontecem e as medidas de segurança adotadas para proteger este transporte não são suficientes para evitar que a carga se espalhe no caso de um acidente grave ou atentado terrorista. Principalmente após o trágico evento de 11 de setembro, só irresponsáveis pensariam em transportar este tipo de carga?, completou Cláudia. Os dois navios deixaram a Europa no dia 26 de abril rumo ao porto de Takahama, Japão. Em 11 de maio, o Pacific Pintail atravessou o Canal do Panamá, seguido pelo Pacif Teal, que atravessou o local no dia 13 de maio. A chegada ao Japão está prevista para o dia 10 de junho, durante a Copa do Mundo. Sua partida, com o carregamento de plutônio, deverá ocorrer em 20 de junho. A íntegra da carta enviada ao presidente Fernando Henrique Cardoso pode se lida no site www.greenpeace.org.br.

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