PUBLICIDADE

Guia mostra 273 espécies de pássaros na metrópole

Urbanização eliminou espécies, mas muitas se adaptaram ao ambiente ou foram atraídas por projetos de rearborização

Por Agencia Estado
Atualização:

A jacutinga desapareceu de vez. A saíra-lagarta e o anambé-branco quase não são mais vistos na área urbana. Em compensação, o pica-pau-do-campo, a pomba de asa branca e o maracanã-nobre, que não são nativos daqui, invadiram a cidade. Hoje, São Paulo abriga 273 espécies de pássaros, que podem ser vistos nos bairros e parques mais arborizados e nos arredores das reservas florestais. O bem-te-vi, o periquito e o sabiá-laranjeira são as espécies mais comuns. A alta diversidade de aves foi constatada durante dez anos de observação pelo biólogo e professor de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Develey, de 35 anos, e pelo fotógrafo Edson Endrigo, de 37, que há oito se especializou no registro de aves. De folheto a guia Esse levantamento consta do guia de campo Aves da Grande São Paulo, recém-lançado em homenagem aos 450 anos da capital. ?A idéia era fazer um folheto com a 60 espécies mais comuns na cidade e distribuí-lo aos freqüentadores do Ibirapuera e do campus da USP?, diz Develey. ?Depois prosperou para 100, até que, há dois anos, decidimos acrescentar as aves que vivem nas matas do entorno de São Paulo.? Além de fotos coloridas, o guia contém informações em português e inglês sobre as espécies. ?A publicação é extremamente oportuna, pois mostra à população que o ambiente urbano também pode ser rico em vida silvestre?, elogia a professora Elizabeth Höfling, do Instituto de Biociências da USP. ?O guia não é destinado só ao público acadêmico ou estudante de biologia, mas à dona de casa e às pessoas que fazem caminhada pela cidade, para entenderem que as aves fazem parte do cotidiano de suas vidas?, destaca o biólogo Develey. Colonização e adaptação Ele explica que, durante a urbanização, houve uma alteração drástica, com quase toda a vegetação original ? florestas, campos e ambientes aquáticos ? substituída por outra, mais exótica. ?Muitas aves desapareceram ou se tornaram raras. Outras foram capazes de colonizar ou se adaptar às novas condições.? A variedade de espécies é explicada pela heterogeneidade de hábitats, que permitem a vida de aves com exigências ecológicas distintas. Exemplo disso é a mata do Parque da Cantareira, na zona norte, que abriga a tesourinha-da-mata, já em extinção. O mesmo acontece no Morro Grande, região do Alto Cotia, zona sul, e nas áreas próximas às Represas Billings e Guarapiranga. ?As matas e vegetações desses locais foram mantidas para preservar os mananciais. A preocupação era com a água, mas por tabela acabou contribuindo para abrigar as aves.? Brejos e parques No fim dos anos 80, com a ampliação da arborização urbana, oferecendo frutos e flores e atraindo insetos, os pássaros voltaram. ?No centro expandido há áreas abertas, como os gramados do Ibirapuera e do campus da USP, no Butantã?, cita. ?E também ambientes aquáticos, como os brejos do Parque Ecológico do Tietê, as margens dos Rios Pinheiros e Tietê e bairros arborizados, que fornecem alimento e abrigo.? Há também casos como o do maracanã-nobre. Originária da região amazônica e do Centro-Oeste do País, essa ave, semelhante a um papagaio, pode ser vista em casais ou, fora da época reprodutiva, em bandos com até 20 pássaros. ?Essa espécie se colonizou recentemente na cidade, provavelmente por causa da soltura ou fuga de gaiolas.? Os periquitos, do Brasil central, podem ser encontrados até em bairros pouco arborizados. São vistos voando em bandos na Cidade Universitária, no Parque D. Pedro II e Pompéia. As matas nos arredores de São Paulo explicam a ocorrência eventual de aves florestais na cidade. Em julho do ano passado, o professor ficou surpreso ao ver pequenos bandos de cuiú-cuiús sobrevoando o campus da USP. ?Essa ave vive em matas bem preservadas, no alto das serras. Mas no inverno aparecem por aqui, para comer sementes de paineira.? Mais surpresas Há uma semana, outra surpresa. Perto do lago ao lado da Avenida Miguel Stefano, Água Funda, um tranqüilo carão ? ave aquática do Pantanal ? procurava, com seu bico longo, insetos no meio da grama. Minutos depois chegou à euforia, ao ver uma fêmea se aproximar, com cinco filhotes. Colhereiros, também do Pantanal, podem ser vistos no Parque Ecológico do Tietê. Nas margens do Tietê e do Pinheiros, além das garças, há gaviões carcará e, no Parque do Trianon, na Avenida Paulista, pica-paus da cabeça amarela. ?O nosso guia nem bem acabou de sair e já está desatualizado?, disse Develey há poucos dias em telefonema a Endrigo, que estava no Nordeste. ?Acabei de ver da varanda do meu apartamento (em Pompéia) o sobrevôo de um gavião de cauda curta, que não consta do guia.? O livro custa R$ 50 e o site do fotógrafo é o www.avesfoto.com.br.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.