Homem primitivo conviveu com tigre-dente-de-sabre

Datação de ossos da megafauna brasileira coincide, num período, com a datação do crânio de Luzia

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Por Agencia Estado
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Por pelo menos 2 mil anos, os antigos habitantes do território onde hoje é o Brasil devem ter saído de suas cavernas cautelosos e olhando para todos os lados para caçar ou coletar alimentos. Eles sabiam que, de algum lugar, um dos mais perigosos predadores que já viveu no planeta, o tigre-de-dente-de-sabre (Smilodon populator), poderia estar à espreita para fazer deles o seu almoço. Depois de 160 anos de polêmica, a ciência, enfim, prova que essas cenas podem ter ocorrido. Testes de carbono 14 em fragmentos de ossos do S.populator, encontrados na região de Lagoa Santa (MG), comprovaram que essa espécie de felino viveu há até pelo menos 9.200 anos. Como é o mesmo local onde foi descoberto o crânio humano da famosa Luzia, de 11.500 anos, foi fácil para os pesquisadores concluírem que as duas espécies conviveram por pelo menos 2 mil anos. Os autores da descoberta são os arqueólogos Walter Neves e Luís Beethoven Piló, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de São Paulo. Eles comprovaram uma hipótese do cientista dinamarquês Peter Lund (1801-1880), considerado o pai da paleontologia e arqueologia brasileiras, levantada há 160 anos. "Estamos provando que o homem conviveu com a megafauna do pleistoceno (período geológico que se estendeu de 2 milhões a 11 mil anos atrás)", diz Neves. Ele e Piló conseguiram as provas de que precisavam no Museu de Zoologia da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. "Conseguimos cerca de 70 amostras da coleção de 14 mil peças ósseas reunidas por Lund", explica Neves. "Enviamos todas elas, com amostras recolhidas em outras instituições, para o laboratório americano Beta Analytic, especializado na datação de carbono 14."

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