A grande prioridade para a conservação da biodiversidade mundial ainda são os chamados Hotspots, 25 ecossistemas que concentram 60% da biodiversidade mundial em apenas 1,4% da superfície terrestre. Mas sem a proteção a algumas das grandes áreas naturais, até o funcionamento dos Hotspots fica comprometido. E vice-versa. Boa parte das nascentes dos grandes rios amazônicos, por exemplo, depende da conservação dos Andes Tropicais, um dos hotspots mais ameaçados. É lá que está a nascente do próprio rio Amazonas e de muitos dos tributários que lhe emprestam a força para atravessar toda a Grande Região Natural da Amazônia. A região do Congo, na África, também tem uma grande interdependência com dois hotspots com os quais faz limite, um a leste e outro a noroeste. Estas duas, junto com três outras grandes regiões ? Nova Guiné, Miombo-Mopane/Okavango e os Desertos Norte Americanos ? constituem um grupo de especial interesse para a conservação, devido a esta interdependência e por que abrigam um bom número de espécies, boa parte das quais é endêmica (exclusiva destes ecossistemas). A concentração de biodiversidade não é tão alta como nos hotspots, mas as 5 regiões respondem por aproximadamente 18% do total de plantas vasculares (51.430 espécies) e 8% dos animais vertebrados (2.265 espécies). ?Temos que adotar uma estratégia dupla, somando os esforços para conservar os hotspots e estas 5 grandes regiões, que são insubstituíveis, e teremos assegurado um conjunto que abrange grande parte da biodiversidade mundial?, diz Gustavo Fonseca, diretor do Centro de Pesquisas Aplicadas à Biodiversidade (CABS), da Conservation International (CI), responsável pelo levantamento que deu origem ao livro sobre as Grandes Regiões Naturais. Para ele, a oportunidade é única. ?Temos agora um conhecimento, em termos de Biologia da Conservação, que não tínhamos há 50 anos, e a chance de tomar decisões com grande impacto sobre a conservação, que não teremos daqui a 50 anos?. As grande regiões naturais têm uma possibilidade de conexão, que, no caso de muitos hotspots, já foi perdida. E a formação de corredores ecológicos, com diversos tipos de unidades de conservação ? parques, reservas, áreas particulares ? não é tão difícil nem custa tão caro. ?Olhar para as grandes regiões naturais, dentro desta perspectiva, é como visualizar o passado dos hotspots e isso pode nos ajudar a entender como restaurar e manejar os hotspots?, acrescenta Fonseca. No Brasil, a comparação poderia ser feita entre a Amazônia e a Mata Atlântica. É preciso atuar agora para evitar que a Amazônia se fragmente como a Mata Atlântica, aproveitando, ao mesmo tempo, as lições da Amazônia para restaurar as conexões entre os remanescentes da Mata Atlântica que sobraram.