Ibama delimita ecorregiões brasileiras

Estudo de três anos define 78 unidades básicas para o planejamento da conservação da biodiversidade brasileira

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Por Agencia Estado
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A proteção da biodiversidade brasileira, através de parques e reservas, não se distribui de maneira eqüitativa em todo o país. Hoje existem 118 unidades de conservação (UCs) federais, abrangendo 2,74% do território nacional. Mas algumas das grandes regiões naturais (ou biomas) são privilegiadas, em termos de proteção legal, em relação a outras. A Amazônia, por exemplo, tem 30 UCs de proteção integral, correspondendo a 4,83% de sua área, enquanto a Mata Atlântica, apesar de abrigar 36 UCs, tem apenas 0,72% de suas florestas sob proteção legal. Na Zona Costeira são 16 UCs, totalizando 6,31% da área protegida, e, no Cerrado, 20 UCs, cobrindo 1,71% da região. Os três biomas menos protegidos são a Caatinga (0,69%), o Pantanal (0,57%) e os Campos Sulinos (0,30%). Até agora não tínhamos um estudo detalhando as ecorregiões de cada um dos sete biomas brasileiros, por isso a implantação de unidades de conservação obedeceu a outros critérios", conta Moacir Arruda, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que acaba de concluir um estudo de 3 anos, onde se completou a definição e delimitação de 78 ecorregiões em todo o país. As ecorregiões, explica, são unidades de paisagem, flora e fauna, que servem de base para o planejamento da preservação da biodiversidade. Uma grande região, como a Amazônia, não é homogênea, mas subdividida em áreas menores - as ecorregiões - que funcionam como unidades para os seres vivos nativos, do mesmo modo como uma bacia hidrográfica funciona como uma unidade para a conservação da água. Impacto sobre as políticas públicas O conceito de ecorregião foi desenvolvido pelo WWF e a primeira delimitação foi feita em conjunto com o Ibama, que agora trabalhou no detalhamento, especialmente do cerrado e caatinga. "A delimitação das ecorregiões terá grande impacto na definição de políticas públicas, além da política de conservação, porque permite a análise das lacunas", diz Arruda.Em outras palavras, com os mapas agora produzidos é possível saber quais as áreas importantes que ainda não estão legalmente protegidas e iniciar estudos para a criação de novas unidades de conservação, complementando a definição de áreas prioritárias, dos workshops realizados entre 1999 e 2000, com a participação de grande número de cientistas. Também é possível planejar como as áreas devem ser conectadas entre si, para a formação de mosaicos e corredores, seguindo a lógica de organização das plantas e animais na paisagem. De acordo com o levantamento feito pelo Ibama, a Amazônia subdivide-se em 23 ecorregiões; o Cerrado em 22; a Mata Atlântica e a Zona Costeira em 9, cada; a caatinga, 8; o Pantanal, 2 e os Campos Sulinos não tem subdivisões, constituem uma única ecorregião. As 23 ecorregiões da Amazônia já estavam definidas e já serviram, por exemplo, para a delimitação do parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, no Amapá, com 3,8 milhão de hectares. O estudo também definiu com precisão as áreas de transição, tecnicamente chamadas de ecótonos, que costumam abrigar grande riqueza de espécies. Os três maiores ecótonos brasileiros chegam a ter áreas superiores a muitos países. São eles o Cerrado-Amazônia, que abrange 4,85% do território nacional; o Caatinga-Amazônia (1,7% do país) e o Cerrado-Caatinga (1,3%). ?Nem sempre as regiões de transição são consideradas na hora de criar unidades de conservação e, no entanto, ali se concentram muitas espécies raras e endêmicas (exclusivas de uma determinada região), e, portanto, são extremamente importantes para a biodiversidade?, observa Arruda. A definição das ecorregiões brasileiras baseou-se em mapas de flora e fauna, em imagens de satélite e mapas de relevo, hidrografia, solo, geologia, precipitação e outros fatores físicos, além de levantamentos específicos, realizados pela Universidade de Brasília e pela Embrapa, com apoio da entidade ambientalista The Nature Conservancy (TNC), com sede em Washington, EUA. Os novos mapas agora devem servir para o planejamento da gestão biorregional destas unidades.

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