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Igreja inicia conclave para eleger novo papa

Por CRIS
Atualização:

Cardeais com mantos vermelhos estão reunidos atrás de pesadas portas de madeira da Capela Sistina nesta terça-feira, no início de um conclave que irá eleger um novo papa para resolver os conflitos e escândalos que abalam a Igreja Católica. Cantos em latim e música de órgão acompanharam os cardeais enquanto eles seguiam para o aposento, com o retrato feito por Michelangelo de Cristo comunicando o Último Julgamento na parede de trás e sua imagem da mão de Deus dando vida a Adão no teto. Com as mãos no Evangelho e falando em latim, eles fizeram um juramento de sigilo de não divulgar nada sobre a votação, que deve começar com uma rodada inicial de votos ainda nesta tarde. Nenhum conclave na era moderna escolheu um papa no primeiro dia, e alguns cardeais especularam no início desta semana que poderia levar de quatro e cinco dias para escolher o homem que irá substituir o papa Bento 16, que renunciou de forma inesperada no mês passado. As portas foram fechadas às 17h34 (13h34 no horário do Brasil), e o mestre de cerimônias, Guido Marini, disse "Extra Omnes" ("Todos fora", em latim), pedindo aos que não estivessem associados com a reunião que deixassem o aposento, dominado pelas obras-primas de Michelangelo. O cardeal maltês Prosper Grech, que aos 87 anos é velho demais para participar, permaneceu no aposento para fazer um sermão e lembrar aos 115 cardeais eleitores da gravidade de sua responsabilidade, antes que ele e Marini fossem os últimos não eleitores a saírem. Fumaça de uma chaminé no telhado da capela irá anunciar o resultado para o mundo exterior. Fumaça negra significa uma votação inconclusiva, e fumaça branca sinaliza a eleição de um pontífice. A duração média dos últimos nove conclaves foi de pouco mais de três dias, e nenhum ultrapassou os cinco dias. Mais cedo, em um dia rico em rituais e pompa, o cardeal italiano Angelo Sodano pediu unidade na Igreja, que está sendo importunada por escândalos de abuso sexual, lutas burocráticas internas, dificuldades financeiras e a ascensão do secularismo. "Meus irmãos, oremos para que o Senhor nos dê um pontífice que irá abraçar essa nobre missão com um coração generoso", disse Sodano em sua homilia na Missa na Basílica de São Pedro, antes do conclave. POSSÍVEIS PONTÍFICES Não há um favorito claro, mas vaticanistas dizem que o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer estão despontando. O primeiro devolveria o pontificado aos italianos após um hiato de 35 anos, ao passo que o segundo se tornaria o primeiro papa não-europeu em 1.300 anos. Mas vários outros candidatos também têm sido citados, como os norte-americanos Timothy Dolan e Sean O'Malley, o canadense Marc Ouellet e o argentino Leonardo Sandri. Muitos católicos observam o conclave à espera de mudanças positivas. "Não é um momento ansioso, mas um momento de grande esperança. A primeira coisa que a Igreja deveria fazer é voltar às vidas das pessoas, em vez de se perder na teologia", disse o italiano Andrea Michieli, de 22 anos, que foi à missa. "O novo papa deve dar uma imagem jovem para a Igreja, para que todos vejam que Cristo não é só a Cúria (a burocracia do Vaticano)." O cardeal mexicano Norberto Rivera Carrera disse ao jornal italiano La Stampa que há muitas opiniões divergentes sobre o perfil adequado do futuro papa. Segundo ele, alguns querem um acadêmico, outros buscam alguém popular, e há quem prefira um bom gestor. Questionado sobre a chance de isso resultar em um conclave prolongado, ele negou. "Chegaremos a um acordo muito rapidamente", afirmou. Sinalizando a divisão entre os cardeais, jornais italianos noticiaram na terça-feira que houve um confronto aberto entre prelados em uma reunião preliminar da segunda-feira. Os jornais disseram que o cardeal italiano Tarcisio Bertone, número 2 na hierarquia vaticana durante o pontificado de Bento 16, acusou o brasileiro João Braz de Aviz de vazar comentários críticos à mídia. Aviz teria respondido que os vazamentos estavam partindo da própria Cúria, e foi muito aplaudido. APOSTAS Vaticanistas dizem que Scola, que comandou duas grandes dioceses italianas, poderia estar mais bem posicionado para compreender a política bizantina do Vaticano --da qual ele nunca participou--, podendo assim introduzir reformas rápidas. Mas os cardeais que trabalham na Cúria estariam, segundo essas fontes, se agrupando em torno de Scherer, que trabalhou durante sete anos na Congregação dos Vaticano para os Bispos, antes de assumir a arquidiocese de São Paulo --a maior do Brasil, país com o maior número de católicos no mundo. Apenas 24 por cento dos católicos vivem na Europa, e cresce dentro da Igreja a pressão para que o novo papa seja de outra região, trazendo uma diferente perspectiva. Os cardeais latino-americanos podem se preocupar mais com a pobreza e a ascensão das religiões evangélicas do que com questões como o materialismo e os abusos sexuais, que dominam as preocupações nos países desenvolvidos. Para os prelados da África e Ásia, a expansão do islamismo seria a questão mais relevante. (Reportagem adicional de Naomi O'Leary e Tom Heneghan)

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