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Índios desalojados ocupam estrada; peões exibem armas

Por Agencia Estado
Atualização:

Peões armados estão ocupando as três fazendas de onde foram desalojados 732 guaranis kaiowáa, na quinta-feira, e a situação está se tornando preocupante na estrada que liga os municípios de João Antônio e Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, onde os indígenas montaram acampamentos às margens da pista. Além do risco de atropelamentos - são cerca de 400 crianças -, os peões pagos pelos fazendeiros estão passando ostensivamente pela estrada, segundo o sertanista Odenir Oliveira, que assessora a Funai na região. Ele relatou, por telefone, que os fazendeiros romperam um acordo com os indígenas e vê aumentar a tensão. Oliveira confirmou denúncias de que as cerca de 15 casas dos guaranis kaiowás foram queimadas pelos peões durante a operação da Polícia Federal, na quinta-feira pela manhã. "Eles chegaram ateando fogo e, como alguns índios não tinham tido tempo de retirar seus principais pertences, foram surpreendidos pelas chamas dentro de suas casas", disse o sertanista. Mas não houve feridos. Violência A violência da operação foi denunciada pela Survival International, organização dedicada a apoiar povos nativos. Em nota distribuída nesta sexta-feira, a ONG - com sede em Londres - afirma que helicópteros deram vôos rasantes sobre as casas dos indígenas, apavorando as crianças, e que dois jornalistas da TV estatal holandesa foram detidos. Segundo a Polícia Federal, a operação de despejo dos guaranis kaiowás envolveu 150 agentes e militares e a tropa de choque do Comando de Operações Táticas (COT) da PF. A invasão dos jagunços surpreendeu os indígenas, que haviam decidido sair das fazendas pacificamente, contando com a palavra dos fazendeiros, de que as benfeitorias e os animais de criação deixados nas terras seriam indenizados. "Se o acordo foi quebrado no início da desocupação, não se sabe mais se haverá pagamento pelas casas, galinhas, porcos e plantações de milho, mandioca e arroz", afirmou Oliveira. Ocupando as duas margens da estrada, os 732 indígenas estão em perigo, segundo o sertanista. "É uma estrada de terra, mas tem trânsito intenso, principalmente de caminhões que carregam gado", relatou. "Estamos pedindo à prefeitura que faça lombadas para reduzir a velocidade dos veículos." Atropelo Com o rompimento do acordo, disse Oliveira, os guaranis kaiowás estão dispostos a tentar na Justiça o retorno às mesmas fazendas de onde foram expulsos. As terras ficam numa área indígena demarcada e homologada pelo governo federal em março deste ano, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, aceitou um mandado de segurança dos fazendeiros e cancelou o ato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ordem de desocupação foi dada na semana passada e também atropelou os planos dos indígenas. No acordo feito com os fazendeiros, eles teriam até 7 de janeiro para deixar as fazendas, mas na sexta-feira passada a Justiça Federal em São Paulo emitiu mandado de reintegração de posse com prazo de uma semana. A operação começou na madrugada da última quinta-feira. Sem espaço Os guaranis kaiowás ocupavam as três fazendas desde o início de 2003, quando começaram a se agrupar ali - vindos de várias localidades da região - com a perspectiva da homologação da reserva, que tem 9 mil hectares. Antes desta ocupação, cerca de 200 guaranis kaiowás já viviam desde 1998 numa outra fazenda, ocupando 26 hectares. Eles não se juntaram aos demais e, portanto, continuam onde estavam, mas não podem abrigar em seus 26 hectares os 732 guaranis kaiowás despejados, que desde 2003 viviam em 1.300 hectares das três fazendas, segundo o sertanista. A tentativa de retomar as fazendas pode ser arriscada, por causa dos peões armados, mas líderes dos indígenas pretendem acionar a Justiça Federal em Ponta-Porã para tentar o retorno. A decisão final sobre a homologação dos 9 mil hectares, pelo STF, não tem data para acontecer.

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