Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estão desde o início de novembro em Nova Ponte (MG), entre Uberlândia e Uberaba, de olho no céu e nas condições climáticas. Eles se revezam dia e noite à espera de que o tempo melhore por algumas horas para que possam cumprir sua missão: lançar um balão carregado com um telescópio de 2 toneladas, que ajudará a estudar objetos cósmicos que emitem raios X e gama, como buracos negros e estrelas de nêutrons, situados no centro de nossa galáxia, a Via Láctea. O novo telescópio permitirá que brasileiros se juntem - e não façam feio - aos esforços de astrônomos do mundo todo nesses estudos. "Observar o universo em raios X é uma tendência mundial e o Brasil não pode ficar para trás", diz João Braga, coordenador geral da Área de Ciências Espaciais e Atmosféricas do Inpe. "É uma maneira de fazer imagens completamente diferente do método convencional. Permite estudar aspectos do universo de uma forma que não seria possível com outros equipamentos." O lançamento será a conclusão bem-sucedida de um trabalho de oito anos, no qual foi investido R$ 1,5 milhão. O balão tem, quando inflado, 140 metros de diâmetro e, quando vazio e esticado no solo, 230 metros do topo à base. Por causa do tamanho, é necessário um grande espaço para lançá-lo. "Por isso escolhemos Nova Ponte, onde existe um aeroporto usado por pequenos aviões", explica o astrofísico Thirso Villela, coordenador do Projeto Masco - nome tirado da técnica de captação de imagens do telescópio, chamada de máscara codificada. "É necessário bom tempo, sem vento nem nuvens." Depois de lançado, o balão ficará na estratosfera terrestre, a 42 quilômetros de altitude. Ele tem de ir assim tão alto porque a atmosfera da Terra funciona como um escudo, protegendo o planeta dos raios X e gama. Depois de cerca de 15 horas, o equipamento cairá, mas sua chegada ao solo vai ser suavizada por pára-quedas e amortecedores. Assim, o telescópio é preservado e pode ser usado em outros vôos. Esse tipo de pesquisa permite que se entenda melhor como funcionam as fontes cósmica de raios X e gama. "O telescópio ajudará a entender os processos físicos envolvidos nas emissões de raios X e gama por esses astros", diz. "Também poderemos descobrir novas fontes dessas emissões. Ou detectar uma gamma-ray burst (GRB) ou erupção de raios gama, um dos mais misteriosos e violentos fenômenos do universo, que libera quantidades de energia tão intensa quanto a de galáxias inteiras." Tecnologia - O projeto já deu sua contribuição para a capacitação tecnológica do País. Todo o telescópio foi desenvolvido no Inpe. Foi preciso criar componentes, como um plástico especial para a blindagem do equipamento contra radiação indesejada. "Também criamos sensores de atitude", conta Villela. "É atitude mesmo e não altitude. Esse sensor é capaz de apontar o telescópio para uma região e mantê-lo nessa posição independentemente dos movimentos do balão. Muitos dos componentes que desenvolvemos poderão ser usados em outros projetos, como os de construção de satélites."