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Instituto Florestal veta Projeto Juçara

O projeto previa a utilização da mão-de-obra dos próprios cortadores de palmitos para coletar as sementes que seriam transformadas em um suco semelhante ao do açaí

Por Agencia Estado
Atualização:

O conselho técnico do Instituto Florestal (IF), órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, vetou o Projeto Juçara, um plano de manejo sustentado para evitar a extinção da palmeira juçara na mata atlântica. O projeto previa a utilização da mão-de-obra dos próprios cortadores de palmitos para coletar as sementes que seriam transformadas em um suco semelhante ao do açaí. Conseguindo, com as sementes, renda maior que a obtida com o corte das palmeiras, os ex-palmiteiros seriam transformados em guardiões da espécie, segundo o projeto. O plano, idealizado por ambientalistas, chegou a ser aprovado pelo ex-secretário do Meio Ambiente, Ricardo Trípoli. O secretário firmou um termo de cooperação envolvendo a própria secretaria, através da Fundação Florestal, a organização não-governamental Amainã e a Associação dos Moradores do Bairro Rio Preto, formada por ex-palmiteiros. Em reunião realizada esta semana, o conselho técnico do IF deu parecer contrário à proposta. O diretor-geral do órgão, Valdir de Cicco, disse que o principal entrave é a previsão de coleta de sementes no interior dos parques estaduais Carlos Botelho e Intervales, o que é proibido por lei. A legislação federal, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), veta qualquer outro tipo de atividade nos parques, a não ser a pesquisa científica. "Nesse caso, não foi feito um projeto de pesquisa", disse. O plano foi devolvido à Fundação Florestal. Cicco assegurou que a proposta não está de todo descartada, podendo ser adaptada para o entorno dos parques. "É possível colher semente fora da reserva e temos interesse em trabalhar com as comunidades do entorno." Afirmou, porém, que é preciso analisar melhor o impacto da retirada das sementes sobre a fauna que se alimenta delas. O veterinário Marcos Malta Migliano, um dos idealizadores, disse que seria retirada apenas parte das sementes. Depois de retirada a polpa numa centrífuga, elas serão devolvidas à mata, sem perder o poder de germinação. Para ele, o maior impacto é o corte sumário das palmeiras para a retirada do palmito. "Isso está ocorrendo de forma intensa, sobretudo dentro dos parques." Sem opção de renda, os palmiteiros invadem as reservas enfrentando a polícia ambiental e os guarda-parques. "Há casos conhecidos de conflitos com mortes." A escassez de palmitos fez com que muitos passassem à prática de crimes mais violentos, como o seqüestro. Em pelo menos um caso, a vítima foi mantida em cativeiro dentro de um parque. O projeto, segundo ele, quer oferecer atividade mais rentável e ecologicamente aceitável a essas populações. "O interesse deles é muito grande, tanto que há mais candidatos do que o projeto pode absorver." A razão desse interesse é econômica, segundo Migliano. O palmiteiro clandestino recebe de R$ 0,80 a R$ 1,40 por palmito cortado, dependendo do tamanho. "Um cacho de sementes coletado legalmente pode render até três quilos de suco, ou cerca de R$ 12,00 para a associação." A maioria das palmeiras produz até quatro cachos e a retirada de apenas um não afeta o ecossistema, segundo ele. "Como a maturação não ocorre simultaneamente, a própria natureza ajuda a controlar a coleta." Migliano lamentou a demora na aprovação de um plano que vem sendo discutido há dois anos e já foi submetido ao Ministério Público. "Quando acordarem, não haverá mais juçara."

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