Jaguatirica recebe embriões congelados

Técnica de reprodução assistida visa aumentar número de felinos em cativeiro com boa variabilidade genética

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Por Agencia Estado
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A transferência de 3 embriões congelados para uma jaguatirica, no último fim de semana, selou, na prática, uma parceria de zoológicos norte-americanos com zoológicos, instituições de pesquisa e entidades ambientalistas brasileiras, para o manejo integrado da população da espécie (Leopardus pardalis). A formalização da parceria ocorreu nesta segunda-feira, em Jundiaí, interior de São Paulo, com a assinatura de um consórcio entre a Associação Americana de Zôos e Aquários (AZA), o Ibama, a Associação Mata Ciliar (AMC) e o Departamento de Reprodução Animal e Zoológicos da Universidades de São Paulo (USP). Através deste consórcio, dez zoológicos norte-americanos investirão cerca de US$ 90 mil, nos próximos 5 anos, em programas de treinamento e capacitação de técnicos brasileiros na transferência de embriões e inseminação artificial de felinos e em projetos de recuperação de seu habitat. "O projeto com a jaguatirica cria precedentes importantes para parcerias visando a conservação de outras espécies de pequenos felinos", comentou Willian Swanson, especialista norte-americano do Zoológico de Cincinatti, EUA, que há 8 anos vem regularmente ao Brasil para intercâmbios com pesquisadores brasileiros. Ele foi o responsável pela primeira transferência mundial, bem sucedida, de embriões de jaguatiricas, feita nos Estados Unidos, e por esta primeira experiência no Brasil. Ameaçada de extinção pelo excesso de caça e pela drástica perda de habitat (desmatamentos), a jaguatirica não é um animal de fácil reprodução em cativeiro, por exigir condições muito específicas de ambiente e nutrição. A reprodução assistida é, portanto, a forma mais rápida disponível de se aumentar o número de jaguatiricas em cativeiro, assegurando o que se costuma chamar de população mínima geneticamente viável. Ou, em outras palavras, um número seguro de animais em idade reprodutiva, com baixa consangüinidade. Para os pequenos felinos, este número mínimo fica em torno de 250 animais, com 90% a 95% de variabilidade genética (animais não consangüíneos). Através da reprodução assistida espera-se chegar a cerca de 125 jaguatiricas da sub espécie brasileira nos zôo norte americanos, de acordo com Swanson. No Brasil, existem cerca de 130 jaguatiricas distribuídas entre 86 instituições de pesquisa, zôos e criadouros nacionais. A soma das duas populações em cativeiro iria além dos 250 da população mínima. "Adicionada aos bancos de sêmen e embriões congelados, que se pretende formar a partir do consórcio, chegaríamos a 500 animais, manejados de forma integrada, entre animais vivos e estoques congelados, de modo a garantir a sobrevivência da espécie com boa variabilidade genética". O estoque de sêmen e embriões congelados facilita o cruzamento entre animais de cativeiros brasileiros e norte-americanos, porque elimina a necessidade de transportar machos ou fêmeas e todo o trabalho de adaptação ao novo ambiente, que, muitas vezes, inviabiliza o acasalamento ou resulta em canibalismo dos filhotes (quando a mãe, sob estresse, come o recém-nascido). A transferência de embriões pode ser feita entre fêmeas de sub espécies diferentes, o que será particularmente útil no caso das jaguatiricas, pois os zôos norte-americanos não têm exemplar da sub espécie brasileira, apenas de outros países da América Latina e do sul dos Estados Unidos. A transferência realizada em Jundiaí foi entre duas fêmeas brasileiras. Os embriões estavam congelados há um ano e meio e haviam sido retirados e fertilizados in vitro pelo próprio Willian Swanson, na visita anterior ao País. Uma experiência semelhante está em curso, com fêmeas do gato do mato pequeno (Leopardus tigrinus). Os animais pertencem à Associação Mata Ciliar, que abriga felinos machucados ou atropelados, recolhidos pela Guarda Municipal de Jundiaí, responsável pela fiscalização na Área de Proteção Ambiental da Serra do Japi.

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