08 de outubro de 2019 | 06h56
Atualizado 08 de outubro de 2019 | 18h04
SÃO PAULO - Os pesquisadores James Peebles, nascido no Canadá e naturalizado americano, Michel Mayor e Didier Queloz, ambos da Suíça, foram laureados nesta terça-feira, 8, com o Prêmio Nobel de Física 2019 por suas contribuições para o entendimento da evolução do Universo e do lugar que a Terra ocupa no Cosmos.
Peebles vai receber metade do prêmio, de 9 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,74 milhões), pelas descobertas teóricas da cosmologia física. Mayor e Queloz vão receber a outra metade pela primeira descoberta de um exoplaneta orbitando uma estrela semelhante à nossa fora no nosso Sistema Solar.
O trabalho teórico de Peebles, desenvolvido ao longo de duas décadas, é a base do nosso entendimento moderno sobre a história do Universo, desde o Big Bang aos dias atuais, pontuou o do comitê do Nobel.
Em suas pesquisas, iniciadas em meados dos anos 1960, ele investigou ao longo de mais de duas décadas os 14 bilhões de idade do Universo e estabeleceu as teorias que permitiram compreender a sua composição.
A partir do Big Bang, quando havia uma espécie de sopa extremamente quente e densa, o Universo começou a se expandir e esfriar. Cerca de 400 mil anos depois, já era transparente, e os raios de luz começaram a ser capazes de viajar pelo espaço. Essa radiação antiga, conhecida como radiação cósmica de fundo, ainda está presente e contém os segredos do Universo.
Com ferramentas e cálculos teóricos, Peebles interpretou esses traços de radiação, da infância do Universo, e descobriu como se deram os processos que levariam à formação das galáxias.
Seu trabalho permitiu posteriormente se chegar à conclusão que apenas 5% do Universo é conhecido – a matéria que constitui estrelas, planetas, árvores e nós. O restante, 95%, é matéria escura desconhecida e energia escura. “Este é um mistério e um desafio para a física moderna”, aponta o comitê do Nobel.
“Peebles recebeu o Nobel pelo conjunto da obra. Fez uma série de contribuições importantíssimas para explicar a evolução do Universo, desde sua origem até a formação das galáxias. Ele conseguiu amarrar coisas que pareciam distantes. Preencheu vazios na história cósmica para mostrar como o Universo evoluiu para ser o que é hoje”, comenta o físico Raul Abramo, professor do Instituto de Física da USP e especialista em cosmologia.
Abramo explica que a radiação cósmica de fundo é uma espécie de “fóssil” de quando o Universo era muito jovem. “Ela permite tirar uma fotografia de como o Universo se parecia quando tinha somente 400 mil anos – hoje ele tem 14 bilhões. Esse estado inicial era muito diferente de hoje em dia. Era uma sopinha muito homogênea. Com o tempo, a gravidade foi coagulando essa sopa, levando a matéria para onde já havia um pouco mais”, diz o pesquisador.
Segundo ele, Peebles foi capaz de entender que essa formação de estruturas levaria à formação de galáxias e que isso é um processo que leva bilhões de anos para ocorrer.
O físico canadense participou por telefone da cerimônia de anúncio do prêmio e deu, emocionado, um conselho para jovens que estão iniciando na ciência. “Você tem de fazer isso pelo amor à ciência. Você deveria entrar na ciência porque é fascinado por ela”, disse, ao revelar que para ele funcionou assim.
“Não é fascinante que temos clara evidência de que o Universo se expandiu de estado muito quente e denso, mas ainda temos de admitir que a matéria escura e a energia escura ainda são misteriosas?”, comentou ao ser questionado por um jornalista sobre qual era a sua suposição sobre o que compõe 95% do Universo.
“Isso significa que apesar de termos feito grandes avanços no entendimento da evolução do nosso Universo, ainda temos questões abertas particularmente sobre o que afinal é a matéria escura e a constante cosmológica (energia escura)”, afirmou.
Em outro espectro da astrofísica, o trabalho de Mayor e Queloz foi o pontapé inicial que hoje nos faz entender que há muitos outros planetas no Universo.
Após passarem um tempo vasculhando a Via Láctea por mundos desconhecidos, a dupla fez a descoberta, em 1995, do exoplaneta 51 Pegasi b – um gigante gasoso comparável ao maior planeta do nosso Sistema Solar, Júpiter, orbitando uma estrela parecida com a nossa, a 51 Pegasi.
Os pesquisadores iniciaram uma revolução na Astronomia por ter sacado uma maneira de “ver” o planeta. “Didier Queloz era aluno de doutorado do Mayor, estava fazendo observações numa época em que não havia instrumentos tão precisos, mas ele notou com espectrômetros pequenas variações da luz da estrela. A frequência variava um um pouquinho porque a estrela não está parada, ela se mexe um pouco por causa da gravidade que o planeta exerce sobre ela. Foi isso que ele notou”, explica a astrofísica brasileira Adriana Valio, do Centro de Radioastronomia e Astrofísica da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“Ele, então, contou para seu orientador que tinha visto algo estranho, que poderia ser um planeta. Mayor endossou e perceberam que estavam notando ali a existência de um planeta”, afirma Adriana, que também investiga a existência de exoplanetas e ouviu o relato do próprio Queloz há alguns anos em Paris.
Desde o achado do 51 Pegasi b, mais de 4 mil exoplanetas foram descobertos na Via Láctea. “Novos mundos estranhos ainda estão sendo descobertos, com uma incrível riqueza de tamanhos, formas e órbitas”, frisou o comitê do Nobel.
“Os premiados deste ano transformaram nossas ideias sobre o cosmos. Enquanto as descobertas teóricas de James Peebles contribuíram para a compreensão de como o universo evoluiu após o Big Bang, Michel Mayor e Didier Queloz exploraram nossas vizinhanças cósmicas em busca de planetas desconhecidos. Suas descobertas mudaram para sempre nossas concepções de mundo”, disse o comitê do Nobel em comunicado à imprensa.
Entre 1901 e 2018, o Nobel de Física foi entregue 112 vezes; em 47 ocasiões, apenas um pesquisador foi laureado. Mas somente três mulheres foram agraciadas com o prêmio até hoje: Maria Curie, em 1903; Maria Goeppert-Mayer, em 1963; e Donna Strickland, em 2018.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
08 de outubro de 2019 | 05h00
Atualizado 08 de outubro de 2019 | 15h15
SÃO PAULO - O mundo conheceu na manhã desta terça-feira, 8, os pesquisadores que foram contemplados com o Prêmio Nobel de Física 2019. A láurea foi concedida a cientistas que fizeram importantes descobertas sobre a evolução do Universo.
Trio de cientistas leva Nobel da Física 2018 por pesquisas no campo da tecnologia a laser
O Estado relembra os últimos premiados com o Nobel de Física.
Veja abaixo:
O trio foi laureado por suas contribuições para o entendimento da evolução do Universo e do lugar que a Terra ocupa no Cosmos. O americano foi premiado pelas descobertas teóricas da cosmologia física. Já os suíços, pela descoberta de um exoplaneta que orbita uma estrela solar.
O trio foi premiado por pesquisas no campo da tecnologia a laser em casos como a manipulação de organelas dentro de uma célula viva (detalhe: sem danificá-la ou interferir no seu funcionamento) e o uso de um bisturi superpreciso, capaz de fazer correções cirúrgicas no olho de uma pessoa.
O trio foi premiado por sua atuação no Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferometria a Laser (Ligo, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que permitiu a detecção de ondas gravitacionais pela primeira vez na história.
O trio foi premiado pelos estudos sobre as chamadas "transições de fase topológica da matéria", que "abriram as portas para um mundo desconhecido onde a matéria pode assumir estados estranhos".
A dupla foi premiada pela descoberta de oscilações dos neutrinos - que mostram que essas misteriosas partículas têm massa - contribuindo para os experimentos que demonstram a capacidade dos neutrinos de mudar de identidade e mudando a compreensão da ciência sobre as engrenagens mais íntimas da matéria.
O trio foi premiado pela invenção de diodos que emitem luz azul, o que permitiu a fabricação de LEDs de luz branca, com alto brilho e economia de energia.
A dupla foi premiada pela descoberta teórica de um mecanismo que contribui para a compreensão das origens da massa das partículas subatômicas - o bóson de Higgs -, partícula cuja existência prevista foi confirmada no Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês).
A dupla foi premiada por causa dos métodos experimentais revolucionários que permitem medir e manipular sistemas quânticos individuais, sem destruir as partículas.
O trio ganhou o prêmio pelos estudos que descobriram que a taxa de expansão do Universo se acelera - e não diminui, como era o esperado. Os estudos se basearam na observação da luz de supernovas.
Eles ganharam o prêmio por terem sido os primeiros cientistas a identificar, isolar e caracterizar o primeiro cristal bidimensional já descoberto, o grafeno, composto por uma única camada de átomos de carbono.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.