Japão prevê perdas milionárias com águas-vivas gigantes

Criaturas marinhas de dois metros e 200 quilos podem derrubar 80% da produção pesqueira do país.

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Por Ewerthon Thobace
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Uma quantidade incalculável de águas-vivas gigantes, vindas do Mar Amarelo, na China, deve chegar nos próximos meses ao Mar do Japão e causar prejuízos que podem passar dos US$ 320 milhões, segundo estimativas da indústria pesqueira. Pesquisadores já alertarem que este ano o fenômeno, que acontece desde 2002, vai ter um efeito devastador para os pescadores. Em muitas regiões, a expectativa é de uma queda de 80% na produção. No país onde a pesca é uma das principais atividades econômicas, o resultado poderá realmente ser desastroso. As criaturas marinhas, chamadas de Echizen Kurage em japonês ou Nomura, chegam a medir quase 2 metros de diâmetro e pesam mais de 200 quilos.

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"Desde o mês passado estamos observando o comportamento de um grupo muito grande que se encaminha para o litoral japonês", contou à BBC Brasil o biólogo oceanógrafo Shinichi Ue, da Universidade de Hiroshima, que também faz parte de um grupo criado pelo governo para sugerir meios de combater a invasão e diminuir os danos. "Então, podemos afirmar que a chegada desses animais é inevitável e o Japão será atingido este ano por um 'tufão' gigantesco de águas-vivas", alertou. Além de estragar as redes de pesca, o animal marinho pode ferir humanos e matar peixes com seu veneno. No passado, uma estação nuclear chegou a parar de funcionar porque a tubulação usada para resfriar os reatores ficou entupida de águas-vivas. Mudanças radicais Segundo Ue, o primeiro registro da chegada de grandes quantidades de águas-vivas gigantes ao Mar do Japão foi em 1920. Depois, o fenômeno voltou a acontecer em 1958 e em 1995. "O ciclo era de aproximadamente 40 anos, mas desde 2002, o país sofre anualmente com a invasão maciça de águas-vivas", lembra o pesquisador. Em 2005 houve o recorde histórico desses animais nas águas japonesas. "Mas estranhamente, apenas no ano passado elas não vieram", conta. Segundo o professor, uma série de causas vem sendo estudada para entender o porquê desse fenômeno. "Podemos afirmar, por enquanto, que houve uma mudança radical na fauna marinha do mar da China, além da modificação da costa pelo homem, poluição e elevação da temperatura da água do mar", enumera. "Mas a principal causa talvez seja a pesca indiscriminada, pois sem concorrência, as águas-vivas têm mais plânctons para se alimentar e, por isso, esses animais se desenvolveram rapidamente." Empresas locais têm procurado medidas para conter os prejuízos. Pescadores usam agora redes mais resistentes e cortantes, e cientistas desenvolvem métodos para extrair colágeno dos animais para ser usado em cosméticos e até em comida. Em 2005, a indústria pesqueira japonesa registrou mais de 100 mil casos de danos causados por águas-vivas gigantes. No pico da invasão naquele ano, cerca de 300 a 500 milhões de animais passaram diariamente pelo Estreito de Tsushima em direção ao Mar do Japão.

 

 

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