Laboratórios paulistas fazem o seqüenciamento do eucalipto

O projeto, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), impressionou Matias Kirst, pesquisador brasileiro da Universidade da Carolina do Norte, que deixou o País há dois anos

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Por Agencia Estado
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Foram apenas dois meses e meio de trabalho, o suficiente para 20 laboratórios paulistas seqüenciarem 110 mil trechos de DNA do eucalipto - que, segundo estimativas, é composto por 580 milhões de pares de bases e entre 25 mil e 30 mil genes. O projeto Forest, do genoma do eucalipto, valeu-se da estrutura montada para o seqüenciamento da Xylella fastidiosa e teve o apoio financeiro de quatro empresas dos setores de papel (Votorantim, Ripasa e Suzano) e de fibras e aglomerados de madeira (Duratex). Agora os pesquisadores partem para a fase de análise desse material, quando pretendem identificar que genes fazem o quê. "Começamos a formar as bibliotecas com os clones de DNA no fim de outubro, mas temos laboratórios com equipamento e bastante experiência", diz a pesquisadora Helaine Carrer, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, que coordenou o seqüenciamento. O projeto, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), impressionou Matias Kirst, pesquisador brasileiro da Universidade da Carolina do Norte, que deixou o País há dois anos. Kirst, que é engenheiro florestal, trabalha em projetos genoma de outras árvores produtoras de papel e aposta numa futura manipulação genética para aumentar e melhorar a produção de papel e madeira. "As pessoas vão ter mais facilidade em aceitar a idéia de aumentar a expressão de determinados genes da planta do que para aceitar a noção de transgenia", diz. A nova fase do projeto, que envolve a identificação dos genes associados ao metabolismo da celulose e da lignina, faz brilhar os olhos dos especialistas das empresas privadas. "Vamos comparar genes de eucaliptos que produzem alta quantidade de celulose com os que produzem pouca e identificar que genes estão ativados", explica Helaine. Isso pode reduzir enormemente o tempo de pesquisa. "Um eucalipto demora de 6 a 7 anos para crescer, e é esse o prazo de que precisamos hoje para ver se um determinado cruzamento produziu os resultados que esperamos", afirma Raul Chaves, engenheiro florestal da Duratex. "Com o genoma, poderemos fazer essa checagem assim que a planta produzir suas primeiras folhas: basta analisar os genes que elas contêm." Para as indústrias de papel, como a Votorantim, o que interessa é o equilíbrio entre a celulose e a lignina - que dá a medida da produtividade de papel. "O outro aspecto importante é a quantidade de fibras, que dá origem a diferentes qualidades de papel para diferentes usos", diz o engenheiro florestal Cesar A. Bonini, da Votorantim. Na quarta-feira, o presidente Fernando Henrique lança em Brasília outro projeto de genoma do eucalipto, este voltado para o aprimoramento da madeira e com outra estratégia de pesquisa.

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