PUBLICIDADE

Limpeza de tóxicos sem proteção revolta ativistas na Índia

Trabalhadores de bermuda trabalham na remoção de resíduos em local contaminado na tragédia de 1983

Por Agencia Estado
Atualização:

A retirada de resíduos tóxicos de Bhopal, onde milhares de pessoas morreram por um escapamento de gás em 1983, está sendo feita por trabalhadores sem nenhuma proteção, o que provocou a indignação de organizações de defesa dos direitos humanos. Mais de cem ecologistas, sobreviventes da catástrofe e ativistas dos direitos humanos entraram na sexta-feira na usina de adubos abandonada da empresa americana Union Carbide, que agora pertence à também americana Dow Chemicals, para tentar impedir a limpeza do lugar, que exigem há tantos anos. Após a decisão judicial do Tribunal Superior de Justiça do Estado indiano de Madhya Pradesh, que em maio ordenou ao governo regional descontaminar o lugar antes de 20 de junho, as autoridades iniciaram na terça-feira a limpeza do material tóxico de um modo que, segundo as organizações humanitárias, viola os direitos humanos. Viruta Gopal, do Greenpeace Índia, disse que "o governo contratou trabalhadores desempregados para limpar as milhares de toneladas de resíduos químicos e pesticidas perigosos que há ainda no lugar", e que isso "é absolutamente inaceitável". "Homens vestidos com bermudas e camisetas estão carregando e descarregando sacos de material altamente perigoso sem usar sequer uma máscara", acrescentou. Por um dia Rachana Dhinga, porta-voz da Campanha Internacional para a Justiça em Bhopal (CIJB), disse que os trabalhadores "estão inalando tóxicos, desconhecem totalmente o perigo ao qual estão sendo expostos e, além disso, são contratados para trabalhar por um dia, por isso o governo não terá que assumir responsabilidades sobre os efeitos que isto pode ter em sua saúde". O Greenpeace denuncia, além disso, que o governo pretende retirar apenas os resíduos superficiais, e não descontaminar todo o lugar. Javier Mouro, escritor espanhol, co-autor junto com Dominique Lapierre de Era meia-noite em Bhopal e fundador de uma clínica para o tratamento das vítimas na localidade, disse que "isto é mais uma das manobras políticas para seguir enganando as vítimas de Bhopal, que continuam sofrendo as seqüelas do envenenamento de vinte anos atrás". Gás O escapamento de gás, ocorrido na meia-noite de 3 de dezembro de 1983 em Bhopal, capital de Madhya Pradesh, no centro da Índia, causou nos primeiros dias a morte de aproximadamente 6 mil pessoas mas pelo menos outras 15 mil morreram posteriormente, número que organizações de defesa dos direitos humanos elevam para o dobro. Mais de vinte anos depois da catástrofe, muitas das vítimas e seus familiares continuam sem receber compensação e sem acesso a tratamentos médicos e mais de 20 mil pessoas se vêem obrigadas a beber água contaminada diariamente, segundo fontes humanitárias. Distintas organizações não-governamentais indicam que mais de 100 mil pessoas sofrem atualmente doenças crônicas, como cegueira, câncer, tuberculose, doenças respiratórias, depressão, irregularidades menstruais, problemas articulares e outras provocadas pela contaminação causada pelo escapamento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.