Linhas de pesca ameaçam extinguir seis espécies de albatrozes

Pelo menos 300 mil aves marinhas são acidentalmente capturadas e mortas, por ano, nos anzóis estendidos em alto mar.

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Por Agencia Estado
Atualização:

Seis das 21 espécies conhecidas de albatroz, uma das maiores aves marinhas existentes, atualmente sofrem severo declínio populacional, devido ao uso indiscriminado de espinhéis para a pesca em alto mar. O alerta foi feito nesta semana pela Birdlife International, organização não governamental relacionada ao estudo e conservação de aves, durante uma reunião de especialistas, realizada na Cidade do Cabo, África do Sul. Duas das seis espécies em situação crítica ocorrem no Brasil e sua conservação é objeto de um plano de ação, a ser concluído até o fim de 2003, para servir de base à regulamentação deste tipo de pesca. Espinhéis são longas linhas, de até 130 quilômetros de extensão, com numerosos anzóis e iscas para peixes predadores. São dispostas em alto mar, por barcos industriais, e acabam atraindo também as aves, sobretudo no momento em que as iscas são jogadas na água. Estima-se que a captura acidental cause a morte - por afogamento ou resultante dos ferimentos causados pelos anzóis - de 300 mil aves por ano, em todo o mundo, sendo 100 mil albatrozes, de todas as espécies. As seis espécies destacadas no alerta da Birdlife são mais vulneráveis devido à coincidência de suas áreas de alimentação ou reprodução com as regiões mais utilizadas pelos barcos industriais de pesca. Entre elas, estão o albatroz de pés pretos, do Havaí, cuja população declinou 50% em 3 gerações (56 anos); o albatroz de bico amarelo do Índico, que além da ameaça dos espinhéis, enfrenta um surto de cólera avícola e declinou mais de 50% em 3 gerações (71 anos); o albatroz de Laysan, também do Havaí, cuja população declinou 30% em 3 gerações (84 anos) e o albatroz pardo, que se reproduz no sul do Atlântico e no Oceano Índico, cujo declínio é o mais sério de todos, chegando a 75% em 3 gerações (90 anos). Também figura na lista o albatroz de bico amarelo (Thalassarche chlororhynchos), cuja população sofreu um declínio de 58% em três gerações (71 anos). ?É uma das espécies que mais nos preocupam, no Brasil, porque a população já é extremamente reduzida e se reproduz apenas em Tristão da Cunha?, diz Tatiana Neves, presidente do Instituto Albatroz, sediado no litoral paulista. Segundo ela, a espécie se distribui pela costa brasileira para se alimentar, entre o Rio Grande do Sul e a Bahia, com maiores concentrações entre São Paulo e o extremo sul do país, justamente onde é maior o número de embarcações em atividade. A sexta espécie ameaçada ocorre igualmente no Brasil: é o albatroz de sobrancelha (Thalassarche melanophrys), cuja área de reprodução fica nas ilhas Falkland ou Malvinas. O alerta indica um declínio de 50% em 3 gerações (65 anos). ?A captura acidental atinge especialmente os jovens desta espécie, que passam alguns anos na costa brasileira e uruguaia, depois de deixar a área de nidificação?, explica Tatiana. ?Como os censos são realizados nas áreas de reprodução e estes jovens morrem antes da idade reprodutiva, a detecção do declínio populacional foi tardia e o estado da espécie já é crítico?. Na costa brasileira, os espinhéis de fundo são utilizados por barcos menores, ainda na plataforma continental, mas os espinhéis pelágicos são estendidos por barcos industriais de grande autonomia, em zonas com 2 ou 3 mil metros de profundidade. Boa parte da frota pesqueira legal tem colaborado com os pesquisadores, na observação das aves e busca de alternativas às mortes acidentais. Mas ainda não há informações suficientes sobre os impactos causados pela frota de barcos estrangeiros arrendados, de grande autonomia, que ancora nos portos do Nordeste e pesca em todo o litoral. Existem diversas alternativas para diminuir a captura acidental das aves, incluindo a disposição das linhas durante a noite ou uso de linhas azuis, menos visíveis. Tais medidas, e outras providências importantes, estão num Plano Nacional de Ação, financiado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e coordenado pelo Instituto Albatroz. O plano fica pronto até o final de outubro e servirá de base para a criação de normas e procedimentos específicos, a serem discutidas entre representantes das entidades ambientalistas, órgãos de pesca e fiscalização ambiental do governo federal e indústrias pesqueiras, num workshop previsto para novembro próximo, organizado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Entre os outros países importantes para a pesca ou para a reprodução das aves marinhas, a Birdlife lidera, desde 2001, a campanha Salve o Albatroz, em favor da prevenção contra a captura acidental das aves e pela ratificação do Acordo de Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), celebrado no âmbito da Convenção de Espécies Migratórias (Convenção de Bonn). O acordo já foi ratificado pela Austrália, Equador, Nova Zelândia e Espanha e deve ser ratificado em breve pela África do Sul e Reino Unido. São necessárias 5 ratificações para que entre em vigor. Campanha internacional Save the Albatross Projeto Albatroz no Brasil

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