Livro mostra rotas e modo de agir de traficantes de animais

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Por Agencia Estado
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O mercado ilegal de animais silvestres no Brasil movimenta mais de US$ 1,5 bi por ano. O negócio criminoso só perde em cifras para o tráfico de drogas e armas. Para retirar animais da caatinga, do Pantanal e da Amazônia os traficantes desafiam o perigo e chegam a amarrar cobras nos braços e pernas. Papagaios e filhotes de araras são transportados pelas quadrilhas em tubos de PVC e latas de tinta com fundos falsos. As rotas, as técnicas para burlar a fiscalização nos aeroportos, a legislação e os procedimentos de apreensão das espécies são analisados por especialistas e autoridades ambientais no livro "Animais Silvestres - Vida à Venda". Com 260 páginas, ele foi lançado hoje, em Brasília, pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) O tráfico abastece casas de venda de animais, fábricas de artesanato, colecionadores particulares e laboratórios farmacêuticos. "Nem as borboletas escapam", afirma o coordenador-geral da Renctas, entidade que atua em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Polícia Federal, Dener Giovanini. Ele estima que o Brasil exporta ilegalmente 90% das borboletas utilizadas por artesãos da China. O crescimento do tráfico de animais levou a Polícia Federal a montar, no final do ano passado, uma coordenação especializada no assunto. "Todo crime só se organiza em torno de grandes lucros", diz o delegado da PF Jorge Barbosa Pontes, responsável pela área de prevenção e repressão aos crimes ambientais no País. Ele reclama da falta de recursos para enfrentar o problema. A meta da PF é instalar um escritório da coordenadoria em cada Estado. Legislação A legislação ambiental é um dos entraves, segundo agentes federais, à repressão das grandes quadrilhas de tráfico de animais. Há dois anos, a Polícia Federal prendeu em um hotel do Rio o austríaco Johan Zillingr com aves, cobras e aranhas, avaliada em US$ 80 mil. "Ele pagou fiança e foi solto", lembra o delegado federal Ricardo Bechara, um dos autores do livro. A pena máxima prevista pela Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) é de um ano e meio de reclusão, com direito à fiança. No caso de espécies ameaçadas de extinção, a multa pode chegar a R$ 100 mil. "O traficante não se sente inibido com esse valor, pois o lucro pode superar a penalidade", afirma Bechara. Rota Coordenador das ações de repressão a crimes ambientais da Superintendência de Polícia Federal do Rio, Ricardo Bechara relacionou as principais cidades da rota do tráfico de animais silvestres. Ela inclui Manaus (AM), Belém (PA), Recife (PE), Corumbá (MS), Uberaba (MG), Itabaiana (SE), Rio e Duque de Caxias (RJ). O papagaio-de-cara-roxa e o papagaio-charão são duas espécies amazônicas na lista das espécies mais procuradas nesses locais por traficantes internacionais. A falta de alternativas de renda em regiões do semi-árido nordestino ou da Amazônia é outro fator que contribui para a venda ilegal de animais silvestres. Às margens da BR-101, na Bahia, micos e periquitos são vendidos por valores entre R$ 0,50 e R$ 2. As espécies da Mata Atlântica que conseguem suportar as condições de transporte geralmente são negociadas nas feiras livres do Rio e de São Paulo. Não são apenas feirantes cariocas que estão envolvidos no esquema. A Superintendência de PF do Rio tem registros de depósitos e esconderijos de animais de alto valor de mercado em favelas, sob a guarda de traficantes de drogas.

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